“Estranho, sim. As pessoas ficam desconfiadas, ambíguas diante dos apaixonados. Aproximam-se deles, dizem coisas amáveis, mas guardam certa distância, não invadem o casulo imantado que envolve os amantes e que pode explodir como um terreno minado, muita cautela ao pisar nesse terreno. Com sua disciplina indisciplinada, os amantes são seres diferentes e o ser diferente é excluído porque vira desafio, ameaça.
Se o amor na sua doação absoluta os faz mais frágeis, ao mesmo tempo os protege como uma armadura. Os apaixonados voltaram ao Jardim do Paraíso, provaram da Árvore do Conhecimento e agora sabem.” (Lygia Fagundes Telles)
LYGIA FAGUNDES TELLES
Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo a 19 de abril de 1923 é escritora
É membro da Academia Paulista de Letras desde 1982, da Academia Brasileira de Letras desde 1985 e da Academia das Ciências de Lisboa desde 1987.
Seu nome de solteira é Lygia de Azevedo Fagundes .Foi a quarta filha de Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, tendo nascido na rua Barão do Bananal.
Em 1938, dois anos depois da separação dos pais, Lygia publicou o seu primeiro livro de contos, Porão e sobrado com a ajuda de seu pai, assinando como Lygia Fagundes. Em 1939 terminou o curso fundamental no Instituto de Educação Caetano de Campos. No ano seguinte, ingressou na Escola Superior de Educação Física, também em São Paulo, ao mesmo tempo que frequentou um curso pré-jurídico, preparatório para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Em 1941 iniciou o curso de Direito e começou a participar ativamente nos debates literários, onde conheceria Mário e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Salles Gomes, entre outros nomes da cena literária brasileira. Fez, então, parte da Academia de Letras da Faculdade e escreveu para os jornais Arcádia e A Balança. Ao mesmo tempo, trabalhou no Departamento Agrícola do Estado de São Paulo para pagar os estudos e a sua própria subsistência. Foi também em 1941 que terminou o curso de Educação Física.
Em 1944 publicou Praia Viva.
Em 1950 casou-se com o jurista Gofredo da Silva Teles Jr. (filho de Gofredo da Silva Teles), que era seu professor na Faculdade de Direito e deputado federal, o que a levou a mudar-se para o Rio de Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal. Em 1952, de volta à sua cidade natal, escreveu o seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, do qual se faria mais tarde uma telenovela, que é editado no ano seguinte, já depois da morte da sua mãe.
Em 1960 separou-se de Gofredo e, no ano seguinte, começou a trabalhar como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo. Em 1962 passou a viver com Paulo Emílio Salles Gomes. Inspirada pelo contexto político brasileiro, escreveu As Meninas.
Em parceria com Paulo Emílio, fez uma adaptação para o cinema do romance de Machado de Assis, Dom Casmurro, para o cineasta Paulo César Sarraceni – adaptação que adotaria a alcunha da personagem principal: “Capitu”.
Em 1970 recebeu o Grande Prémio Internacional Feminino para Estrangeiros, na França, pelo seu livro de contos Antes do baile. Em 1973, o seu romance As Meninas arrebatou os principais prémios literários brasileiros: o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e o prémio de “Ficção” da Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 1977, foi galardoada pelo Pen Club do Brasil na categoria de contos, pela sua colectânea Seminário dos Ratos.
Em sequência da morte do seu companheiro, Paulo Emílio Salles Gomes, assumiu a presidência da Cinemateca Brasileira, fundada por este.
Em 1982 foi eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, por 32 votos a 7, foi eleita, em 24 de outubro, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Pedro Calmon, tomando posse em 12 de Maio de 1987.
Em 1995, Emiliano Ribeiro apresentou o filme As Meninas, baseado no romance da escritora. Em 2001 voltou a receber o Prémio Jabuti, na categoria de ficção, pelo seu livro Invenção e Memória. Em março de 2001 recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília.
A 13 de Maio de 2005 recebe o Prémio Camões, distinguida pelo júri composto por Antônio Carlos Sussekind (Brasil), Ivan Junqueira (Brasil), Agustina Bessa-Luís (Portugal), Vasco Graça Moura (Portugal), Germano de Almeida (Cabo Verde) e José Eduardo Agualusa (Angola).
Algumas de suas obras: Ciranda de Pedra, 1954; Verão no Aquário, 1964; As Meninas, 1973 (Prêmio Jabuti)
As Horas Nuas, 1989 (romances); Antes do Baile Verde, 1970; Seminário dos Ratos, 1977; Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A Estrutura da Bolha de Sabão, 1991); A Disciplina do Amor, 1980; (contos); Seleta, 1971 (organização, estudos e notas de Nelly Novaes Coelho); Lygia Fagundes Telles, 1980 (organização de Leonardo Monteiro); Os melhores contos de Lygia F. Telles, 1984 (seleção de Eduardo Portella); Venha ver o pôr-do-sol, 1988 (seleção dos editores – Ática); A confissão de Leontina e fragmentos, 1996 (seleção de Maura Sardinha) ; Oito contos de amor, 1997 (seleção de Pedro Paulo de Sena Madureira)
Pomba enamorada, 1999 (seleção de Léa Masima).
Traduções e adaptações para o alemão de Filhos pródigos, 1983; As horas nuas, 1994; Missa do galo, 1994; para o espanhol: As meninas, 1973; As horas nuas, 1991; para o francês: Filhos pródigos, 1986; Antes do baile verde, 198; As horas nuas, 1996; As meninas (Les pensionnaires, Brésil 70, un rêve de liberté); para o inglês: As meninas, 1982; Seminário dos ratos, 1986; Ciranda de pedra, 1986; para o italiano: As pérolas, 1961; As horas nuas, 1993; para o polonês: A chave, 1977; Ciranda de pedra, 1990; para o sueco: As horas nuas, 1991; para o tcheco: Antes do baile verde, s.d. (traduzido também para russo)
Edições em Portugal: Antes do baile verde, 1971; A disciplina do amor, 1980; A noite escura e mais eu, 1996 As meninas.
Para o cinema: Capitu (roteiro); parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, 1993 (Siciliano); As meninas (adaptação), 1996; para o teatro: As meninas, 1988 e 1998; para a televisão: O jardim selvagem, 1978 (Caso especial – TV Globo); Ciranda de pedra, 1981 e 2008 (Novela – TV Globo); Era uma vez Valdete, 1993 (Retratos de mulher – TV Globo)
Prêmios: Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958); Prêmio Guimarães Rosa (1972) ;Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1973); Prêmio Pedro Nava, de Melhor Livro do Ano (1989); Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional; Prêmio APLUB de Literatura; rêmio Bunge (2005); Prêmio Jabuti
Fonte: Reprodução da União Brasileira de Escritores-UBE-SP