ABDORAL DE CARVALHO AMORIM
Rita – Quando você iniciou a sua carreira de músico?
Abdoral – Aos 16 anos, como autodidata.
Rita – E profissionalmente?
Abdoral – Aos 20 anos de idade, em Fortaleza-CE.
Rita – Qual era o seu público?
Abdoral – Eu era músico da noite e trabalhava para alguns conjuntos musicais.
Rita – Você chegou a tentar outros espaços?
Abdoral – De Fortaleza fui para Recife, onde fiquei por uns 5 meses, quando conheci um empresário de artistas do grupo Severiano Ribeiro, que se encontrava em Recife para a inauguração do Cine São Luís. Ele me convidou para eu cantar na Rádio Nacional, que, segundo ele, o meu timbre de voz seria a “bomba atômica do momento”.
Rita – Você aceitou o convite?
Abdoral – Não, porque eu não queria deixar o Nordeste e nem ficar longe da família.
Rita – Qual foi o seu itinerário seguinte?
Abdoral – Voltei para Fortaleza e me casei com uma paraibana. Nisso, o meu pai pediu que eu viesse morar em Teresina, onde a minha família já se encontrava.
Rita – Uma vez em Teresina, qual foi o seu próximo passo?
Abdoral – Formei um conjunto musical, com seis músicos e passei a tocar em clubes de Teresina, principalmente no Clube dos Diários.
Rita – Você vivia só da música ou teve outros meios de vida?
Abdoral – Abri uma boate com o nome “Mocambo” aqui em Teresina, no edifício Freitas. Na abertura, apresentei o cantor Alcides Gerardes, com a presença do prefeito Agenor Barbosa de Almeida e família. Contudo, a freqüência feminina foi escassa, visto que o nome “boate’ ainda era, na época, discriminado.
Rita – Isso contribuiu para não ser levado avante aquele espaço dançante?
Abdoral – Sim. Tive que fechar a boate e encaixar-me em outro ramo.
Rita- Que ramo era esse?
Abdoral – Ramo de alimentação. Abri um restaurante em que pus o nome de “Pão e Vinho”, com especialidade em peixes. Foi bem aceito pela sociedade, com muito sucesso.
Rita – E você, como empresário, abandonou a música?
Abdoral – Não. Continuei minha vida artística, tocando nos clubes da capital e do interior, como União, Campo Maior, Piripiri e Pedro II.
Rita – Ao longo da sua vida, deu continuidade à música?
Abdoral – Sim. E só me afastei, com o surgimento da jovem guarda que tomou o espaço, com outro gênero musical, de muito sucesso, naquele momento.
Rita – Afastado da música e já com o restaurante de portas fechadas, como você manteve os seus proventos?
Abdoral – Passei a negociar com antiquários, durante vários anos.
Rita – Posteriormente, você voltou à música?
Abdoral – Sim, fui convidado pelo sindicato dos corretores de seguros para fazer um show em Maceió, quando fui agraciado com um trompete laqueado em ouro.
Rita – A propósito, você toca outro instrumento musical, além do trompete?
Abdoral – Não, sempre me dediquei a esse instrumento.
Rita – Além de tocar, você também compõe?
Abdoral – Sim, componho e canto. Meu primeiro sucesso foi “Mambo Brasília”, em 1957, quando Juscelino lançou a pedra fundamental de Brasília.
Rita – Atualmente, você ainda atua como músico?
Abdoral – Toco e já gravei sete CDs: “Recordações”; “Trompete de Ouro”, I e II; “Seresta”; “Sucesso de Todos os Tempos”, vol. I, II, III.
Rita- Mesmo idoso, você manter a voz firme e afinada. Esta foi a razão de eu ter escolhido uma composição sua, com a sua voz, para a abertura deste site, respeitando os seus direitos autorais.
Abdoral – E eu agradeço a atenção.