EM NOME DO PAI E DO FILHO, uma antologia de antologias
Por iniciativa de Antônio Campos, será publicada, na Fliporto 2011, em novembro, a obra “EM NOME DO PAI E DO FILHO” de Alberto da Cunha Melo. Saiba um pouco sobre a edição, leia este artigo de Isabel de Andrade Moliterno.
EM NOME DO PAI E DO FILHO
Antologia, no dicionário, é descrita como uma “coleção de trechos em prosa e/ou em verso”. Esta é uma antologia de antologias. Nela, estão reunidos poemas de Benedito Cunha Melo e de Alberto da Cunha Melo. Os textos de Benedito foram selecionados por Alberto e constituem uma amostra de vários períodos de sua produção poética, que se estende de 1939 a 1980. Os de Alberto foram escolhidos por Cláudia Cordeiro, responsável por este encontro entre pai e filho, e representam toda a primeira fase de sua poesia, entre as décadas de 1960 e 1970, em que predominam poemas compostos por cinco quartetos —o que pode ser facilmente associado às tão populares quadras de seu pai. A iniciativa da edição ficou por conta do Instituto Maximiano Campos, através de seu presidente Antônio Campos, apresentador da obra, que registra, assim, um pacto com a singularidade deste livro e com seus poetas, representantes pernambucanos da mais alta Literatura Brasileira.
Inicialmente, em Poesia Seleta, Alberto se apresenta como leitor de Benedito. Em seguida, os traços do pai se insinuam na escrita do filho. Mas estará equivocado quem se lançar à leitura com o intuito de detectar, na palavra, os “genes” que passaram de um a outro. Pois este não é apenas um encontro de familiares e sim um diálogo entre dois grandes poetas, em cuja linguagem correm séculos de uma tradição que remonta à Grécia Antiga, passando por românticos, parnasianos, simbolistas; tradição que, em cada um, se combina a um modo criativo, preciso, intenso e muito particular de transformar a linguagem cotidiana em linguagem poética.
Antologia pode ter, ainda, o sentido de “tratado acerca das flores”. A definição parece apropriada, especialmente porque Benedito e Alberto são poetas capazes de renovar essa imagem tão arcaica. Ao associarem o poema à flor, revelam sua concepção de poesia.
Amo a trova sem nuança,/ Bem simples, tão simplezinha,/ Qual flor que planta a criança/ Na cova de uma andorinha. Nessa trova, Benedito Cunha Melo deixa perceber como sua busca da simplicidade é também uma procura da beleza plástica e delicada, refletindo um olhar sempre voltado ao inefável, ao Infinito. A simplicidade associa-se ao frêmito da vida e a morte é um tema recorrente.
Que esta vida e minhas palavras/ sejam pedra na superfície:/ sejam flores, mas endureçam/ na hora de serem arrancadas. Nessa estrofe de Oração pelo poema, Alberto da Cunha Melo alia a delicadeza da flor com a dureza da pedra. Sua flor não é colhida, mas arrancada. Sua poesia é assim: flor e pedra, doce e amarga, sensível e racional. Sempre impactante.
O olhar crítico e em comunhão com o outro, a atenção ao detalhe — na vida e na palavra —, a ironia, o ritmo intenso, a emoção, a profundidade, a sabedoria, a busca pela verdade fazem parte da poesia de ambos, pai e filho. Poesia, antes de tudo, bela. Para sempre…
Isabel de Andrade Moliterno
Nota: texto recebido por e-mail.