“Sertanejo do mundo, Ariano Suassuna foi uma inteligência genial”, afirma Zuenir Ventura em seu discurso de posse na Cadeira 32 da ABL
“Ariano Suassuna debochava quando era chamada de anacrônico. Assim como usava o humor como antídoto ao trágico”, afirmou o jornalista e escritor mineiro Zuenir Ventura em seu discurso de posse na Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, hoje, dia 6 de março, sexta-feira, em solenidade no Petit Trianon.
Zuenir Ventura, eleito em 30 de outubro do ano passado, na sucessão do dramaturgo, poeta e romancista Ariano Suassuna, falecido no dia 23 de julho de 2014, disse ainda em seu discurso: “Posso anunciar com orgulho, mas sem insolência, que vou suceder, jamais substituir, o insuperável Ariano Suassuna na cadeira 32”.
O novo Acadêmico foi recebido pela Acadêmica Cleonice Berardinelli, sua professora no curso de Letras Neolatinas da antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Logo após, o Presidente da ABL, Acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti, convidou o decano, Acadêmico Eduardo Portella, para entregar a espada, o Acadêmico Merval Pereira, para fazer aposição do colar, e o Acadêmico Domício Proença Filho, para entregar o diploma. O Presidente, então, declarou empossado o novo Acadêmico.
Segundo Geraldo Holanda Cavalcanti, “É um momento de grande satisfação para a Academia, que se enriquece com a presença de um observador arguto da contemporaneidade brasileira, e uma alegria para os acadêmicos que vão poder privar da companhia de uma pessoa unanimemente reconhecida pela conviviabilidade amena, generosa e aberta que tão bem caracteriza a personalidade de Zuenir”.
A Acadêmica Cleonice Berardinelli, ao encerrar seu discurso, afirmou: “Bem vindo, Zuenir. E, relembrando versos do velho amigo Manuel Bandeira, um confrade que aqui nos precedeu, digo convicta: Entre Zuenir, você não precisa pedir licença!”
Saiba mais
O novo Acadêmico
Bacharel e licenciado em Letras Neolatinas, Zuenir Ventura é jornalista, ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Escola Superior de Desenho Industrial, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Colunista do jornal O Globo, ingressou no jornalismo como arquivista, em 1956. Nos anos 1960/61 conquistou bolsa de estudos para o Centro de Formação dos Jornalistas de Paris. De 1963 a 1969, exerceu vários cargos em diversos veículos: foi editor internacional do Correio da Manhã, diretor de Redação da revista Fatos & Fotos, chefe de Reportagem da revista O Cruzeiro, editor-chefe da sucursal-Rio da revista Visão-Rio.
No fim de 1969, realizou para a Editora Abril uma série de 12 reportagens sobre “Os anos 60 – a década que mudou tudo”, posteriormente publicada em livro. Em 1971, voltou para a revista Visão, permanecendo como chefe de Redação da sucursal-Rio até 1977, quando se transferiu para a revista Veja, exercendo o mesmo cargo. Em 1981, transferiu-se para a revista IstoÉ, como diretor da sucursal. Em 1985, foi convidado a reformular a revista Domingo, do Jornal do Brasil, onde ocupou depois outras funções de chefia.
Em 1988, Zuenir Ventura lançou o livro 1968 – o ano que não terminou, cujas 48 edições já venderam mais de 400 mil exemplares. O livro serviu também de inspiração para a minissérie “Os anos rebeldes”, produzida pela TV Globo. O capítulo “Um herói solitário” inspirou o filme O homem que disse não, que o cineasta Olivier Horn realizou para a televisão francesa.
Em 1989, publicou no Jornal do Brasil a série de reportagens “O Acre de Chico Mendes”, que lhe valeu o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Vladimir Herzog. Em 1994, lançou Cidade partida, um livro-reportagem sobre a violência no Rio de Janeiro, traduzido na Itália, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de Reportagem. Em fins de 1998, publicou O Rio de J. Carlos e Inveja – Mal Secreto, que foi lançado depois em Portugal e na Itália. Já vendeu cerca de 150 mil exemplares. Em 2003, lançou Chico Mendes – Crime e Castigo. Seus livros seguintes foram Crônicas de um fim de século e 70/80 Cultura em trânsito – da repressão à abertura, com Heloísa Buarque e Elio Gaspari. No cinema, codirigiu o documentário Um dia qualquer e foi roteirista de outro, Paulinho da Viola: meu tempo é hoje, de Izabel Jaguaribe. Suas obras mais recentes são Minhas histórias dos outros, 1968 – o que fizemos de nós e Conversa sobre o tempo, com Luis Fernando Verissimo. Seu livro mais recente é o romance Sagrada Família.
Em 2008, Zuenir Ventura recebeu da ONU um troféu especial por ter sido um dos cinco jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país nos últimos 30 anos”. Em 2010, foi eleito “O jornalista do ano” pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros.
Ao comentar sua série de reportagens sobre Chico Mendes e a Amazônia, The New York Review of Books classificou o autor como “um dos maiores jornalistas do Brasil”. A revista inglesa The Economist definiu-o como “um dos jornalistas que melhor observam o Brasil”.
Outras opiniões sobre o jornalista: “Ele nunca foi visto do lado errado. Foi sempre um tremendo batalhador. E só se torna amigo de um político depois que ele deixa o poder” (Elio Gaspari); “Ele tem uma tendência inata a renovar, a reformular o que não está bom” (Amílcar de Castro); “Um dos renovadores da linguagem e da feição gráfica do jornalismo brasileiro” (Luis Carlos Barreto).
Sobre o livro 1968, o ano que não terminou: “É um clássico” (Antonio Houaiss); “É muito bom o livro de Zuenir Ventura. O texto é cuidadíssimo, quem escreve sabe que aquilo que lá está foi reescrito ‘n’ vezes. É a melhor coisa que Zuenir já escreveu” (Paulo Francis); Sobre o livro Inveja – Mal Secreto: “Zuenir criou uma obra original, emocionante e invejável” (Maurício Stycer); “Nesse corajoso livro de Ventura, o eu também dá lugar aos outros (…) Resultou numa obra surpreendente” (Marcelo Pen); “…O jornalista Zuenir Ventura prova que domina a arte de prender o leitor, da primeira à última linha, o que já se sabia desde seus trabalhos anteriores” (Luiz Zanin Oricchio).
Zuenir Ventura tem 83 anos e há 51 é casado com Mary Ventura, com quem tem dois filhos: Elisa e Mauro.
Fonte: Academia Brasileira de Letras/ABL
Foto: Globo