DURVAL DE NORONHA GOYOS JR. – DISCURSO DE POSSE
Os Desafios da União Brasileira de Escritores (UBE)
Por Durval de Noronha Goyos Junior
…. Senhoras e Senhores, Caros Amigos. Tomo posse como presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) com o pleno conhecimento da responsabilidade da missão à minha frente, na defesa dos interesses dos escritores brasileiros e bem assim na promoção dos valores nacionais, tendo como referência a gloriosa história da entidade.
Como é de amplo conhecimento, a UBE é a mais antiga associação de escritores do Brasil. Criada em 14 de março de 1942, adquiriu a presente denominação em 1958. O I Congresso de Escritores, em 1945, foi um marco de grande repercussão e impacto para a democratização do País ao clamar “pelo exercício da soberania popular”.
A UBE teve como primeiros e principais líderes Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Sérgio Buarque de Holanda, Manuel Bandeira, Afonso Arinos, Viana Moog, José Luís do Rego, Paulo Mendes de Almeida e Caio Prado Júnior. Dentre seus membros ilustres figuraram Jorge Amado, Wilson Martins, Monteiro Lobato, Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade, Florestan Fernandes, Júlio de Mesquita Filho, Menotti del Picchia, João Cabral de Melo Neto, Antônio Cândido, dentre outros.
A entidade foi presidida por nomes como Paulo Duarte, Mário Donato, Mário da Silva Brito, Afonso Schmidt, Raimundo de Menezes, Claudio Willer, Fabio Lucas, Ricardo Ramos e Levy Ferrari. A UBE outorga anualmente o prestigioso prêmio Juca Pato para o escritor que tenha publicado obra de impacto nacional no ano precedente. No ano corrente, a UBE indicou o nome do grande historiador brasileiro, Luiz Alberto Moniz Bandeira, para o Prêmio Nobel de literatura, respondendo a convite da Academia Sueca.
Meu caro Amigo, escritor e jornalista Joaquim Maria Botelho presidiu a UBE nos dois últimos exercícios sociais, realizando uma gestão profícua em iniciativas meritórias, como a retomada da publicação de O Escritor, o lançamento do sítio eletrônico, a criação de boletins eletrônicos, a realização do Congresso Brasileiro de Escritores de 2011, a formatação de parcerias importantes e publicações de antologias em português e em alemão. Dentre as ações de interesse nacional, sobressaíram-se as gestões de Joaquim Botelho em defesa dos direitos autorais e da liberdade de expressão na questão das biografias. Peço uma calorosa salva de palmas a Joaquim Botelho.
A diretoria que hoje toma posse é, na realidade, uma continuação da administração anterior, que foi muito bem sucedida. A maior parte dos nomes já figurava na diretoria precedente. No exemplar de O Escritor, já distribuído no ingresso deste recinto, temos breves biografias dos membros da diretoria que hoje é empossada, a qual conta comigo, Durval de Noronha Goyos Junior como presidente, Ricardo Ramos Filho, 1º vice presidente; Cláudio Willer, 2º vice presidente; Marcelo Nocelli, secretário geral; Fábio Tucci Farah, 1º secretário; Sueli Carlos, 2ª secretária; Antonio Francisco Carvalho Moura Campos, tesoureiro geral; Djalma da Silveira Allegro, 1º tesoureiro; Nicodemos Sena, 2º tesoureiro.
No Conselho, que será presidido por Joaquim Botelho, teremos a escritora Anna Maria Martins, o jornalista Audálio Dantas, o escritor Carlos Vogt, a escritora Lygia Fagundes Telles, o escritor Luís Avelima, o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, o professor Luiz Paulino; o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães e o doutor Walter Sorrentino.
Devo confessar que, quando inicialmente convidado a postular o encargo de presidente da UBE, minha primeira reação foi inspirada por Macunaíma, o anti-herói e feiticeiro personagem de Mário de Andrade, e hoje constelação, que frequentemente dizia “ ara… que preguiça!” Depois de apelos diversos, resignei-me a proferir a oração feita pelo mesmo herói, que repito hoje:
Valei-me Nossa Senhora,
Santo Antonio de Nazaré,
A vaca mansa dá leite,
A braba dá si quisé!
De fato, são muitos os desafios existentes para que a UBE possa continuar a patrocinar os interesses dos escritores brasileiros e bem assim a promover os interesses nacionais brasileiros na área cultural. Primeiramente, pretendemos expandir o número de afiliados da UBE, hoje com cerca de 1.500 membros. Para tanto, gostaríamos de aumentar os núcleos de escritores nos diversos estados da federação, tanto nas capitais como nos interiores, sertões, várzeas, chapadas, campinas, caatingas e caaporangas.
Desejamos ainda criar oficinas de literatura, através das quais alguns de nossos membros poderão, de acordo com projeto uniforme adrede preparado, levar às nossas escolas públicas de ensino básico aulas práticas de poesia e prosa, com convênios firmados inicialmente com uns poucos municípios, a título experimental. Deveremos dar atenção às relações entre cinema e teatro com a literatura e ainda intensificar nossas rodas de leitura.
Da mesma maneira, desejamos continuar somando esforços àqueles de outras forças representativas culturais em questões como direitos autorais, programas de leituras e políticas de bibliotecas. A realização de eventos da UBE, bem como a participação noutros de iniciativa diversa, também deve ser prioritária.
A parceria com editoras, Brasil afora, é importante, não apenas para fomentar o conhecimento recíproco com os escritores, mas também para ações tópicas tanto em publicações específicas, quanto na promoção dos interesses comuns. Promoveremos encontros entre nossos afiliados e editoras diversas, uma de cada vez.
Impõem-se ainda ações de afirmação da língua portuguesa, o idioma oficial da República Federativa do Brasil, de acordo com o que reza o artigo 13 da Constituição. Conforme bem observou Eça de Queirós, “na língua verdadeiramente reside a nacionalidade”. No entanto, nos últimos tempos tem-se agravado o uso desnecessário de estrangeirismos, notadamente os emprestados da língua inglesa, ainda que em sua vasta maioria desnecessários, por serem étimos latinos, sedimentados há muito na língua portuguesa. Esse vício é tanto mais grave quando advindo de meios de comunicação, por trazerem uma repercussão tanto ampla quanto nefasta.
Iremos ainda criar as medalhas Mário de Andrade e Jorge Amado para homenagear os amigos da UBE e os escritores brasileiros, respectivamente.
Por último, através de convênios, deveremos buscar, com um sentido de urgência, instalações condignas para a importante biblioteca da UBE, que abriga o vasto e importante acervo da produção intelectual do escritor brasileiro, e possam ainda servir para eventos diversos.
São muitas as tarefas a serem desenvolvidas pela UBE num momento institucional particularmente problemático para o Brasil e para os brasileiros. Tais circunstâncias, contudo, não intimidam a nós da UBE. De fato, as dificuldades do momento evocam as palavras do Presidente Getúlio Vargas, proferidas quando, em 18 de agosto de 1942, submarinos nazistas afundaram 5 cargueiros brasileiros, com cerca de 650 mortes. Disse, naquela trágica ocasião, o presidente da república que “as ocorrências que se registraram nos últimos dias não afetarão o coração do Brasil, porque, acima de tudo, o Brasil é imortal. Viva o Brasil.”
Senhoras e Senhores, vamos trabalhar. Muito obrigado.
Fonte: UBE-SP