O catador de palavras, de Antonio Ventura, apresenta o reencontro de um homem
consigo próprio, na sua mais intensa vocação: para além de um “catador”, um
transfigurador de palavras. Ariscas, elas se deslocam do terreno da fala cotidiana
para ressurgirem no espaço instável do poema — onde tudo se arrisca, em nome da
beleza. Enquanto quase todos seus colegas de geração — a da “poesia marginal” —
celebravam o precário, Ventura, dissonantemente, como atesta o título de um livro
seu, efetuava a Reivindicação da eternidade. No compasso de um discurso
abastecido em lições rimbaudianas, desafiadoramente proclamava: “Eu sou um
Deus que canta entre os rochedos”. Noutro passo, todavia, a voz de Ventura se
contrapunha a uma das mais famosas lições do vate francês: “Como é fabuloso ser
eu, e não o outro”. O poeta-andarilho, numa viagem iniciada em Ribeirão Preto, com
escala no Rio de Janeiro, constrói e oferta neste livro sua morada mais sólida. No
ponto de partida do adolescente ou na estação de desembarque do adulto, a mesma
transbordante celebração da Poesia.
Antonio Carlos Secchin
da Academia Brasileira de Letras