AMOR À PRIMEIRA VISTA
Por Wisława Szymborska
Ambos estão certos
de que uma paixão súbita os uniu.
É bela essa certeza,
mas é ainda mais bela a incerteza.
Acham que por não terem se encontrado antes
nunca havia se passado nada entre eles.
Mas e as ruas, escadas, corredores
nos quais há muito talvez se tenham cruzado?
Queria lhes perguntar,
se não se lembram -
numa porta giratória talvez
algum dia face a face?
um “desculpe” em meio à multidão?
uma voz que diz “é engano” ao telefone?
– mas conheço a resposta.
Não, não se lembram.
Muito os espantaria saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.
Ainda não de todo preparado
para se transformar no seu destino
juntava-os e os separava
barrava-lhes o caminho
e abafando o riso
sumia de cena.
Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Quem sabe três anos atrás
ou terça-feira passada
uma certa folhinha voou
de um ombro ao outro?
Algo foi perdido e recolhido.
Quem sabe se não foi uma bola
nos arbustos da infância?
Houve maçanetas e campainhas
onde a seu tempo
um toque se sobrepunha ao outro.
As malas lado a lado no bagageiro.
Quem sabe numa noite o mesmo sonho
que logo ao despertar se esvaneceu.
Porque afinal cada começo
é só continuação
e o livro dos eventos
está sempre aberto no meio.
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(Tradução Regina Przybycien)
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Fonte: palavraspalabras.blogspot.com.br
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Data de nascimento 2 de julho de 1923
Local de nascimento Kórnik
Nacionalidade Polónia Polonesa
Data de morte 1 de fevereiro de 2012 (88 anos)
Local de morte Cracóvia
Ocupação Escritora
Magnum opus Paisagem com grão de areia
Prêmios Nobel prize medal.svg Nobel de Literatura (1996)
Prêmio Nike de Literatura (2006)
Wisława Szymborska (Kórnik, 2 de Julho de 1923 — Cracóvia, 1 de fevereiro de 2012) foi uma escritora polaca.
Poetisa, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia, onde se formou em Filologia Polaca e Sociologia pela Universidade Jaguellonica. A sua extensa obra, traduzida em 36 línguas, foi caracterizada pela Academia de Estocolmo como «uma poesia que, com precisão irónica, permite que o contexto histórico e biológico se manifeste em fragmentos da realidade humana», tendo sido a poetisa definida, como «o Mozart da poesia»
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.