“ROMEU E JULIETA – William Shakespeare (trad. Olavo Bilac, cena V) – (categoria: Outros Autores)

Postado por Rita de Cássia ligado jul 30, 2016 em Outros Autores | 0 Comentários

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ROMEU E JULIETA

tradução de Olavo Bilac (Ato III, cena V – a cena do balcão)

 

JULIETA:

Por que partir tão cedo? inda vem longe o dia…

Ouves? é o rouxinol. Não é da cotovia

Esta encantada voz. Repara, meu amor:

Quem canta é o rouxinol na romãzeira em flor.

Toda a noite essa voz, que te feriu o ouvido,

Povoa a solidão como um longo gemido.

Abracemo-nos! fica! inda vem longe o sol!

Não canta a cotovia: é a voz do rouxinol!

 

ROMEU:

É a voz da cotovia anunciando a aurora!

Vês? há um leve tremor pelo horizonte a fora…

Das nuvens do levante abre-se o argênteo véu,

E apagam-se de todo as lâmpadas do céu.

Já sobre o cimo azul das serras nebulosas,

Hesitante, a manhã coroada de rosas

Agita os leves pés, e fica a palpitar

Sobre as asas de luz, como quem quer voar.

Olha! mais um momento, um rápido momento,

E o dia sorrirá por todo o firmamento!

Adeus! devo partir! partir para viver…

Ou ficar a teus pés para a teus pés morrer!

 

JULIETA:

Não é o dia! O espaço inda se estende, cheio

Da noite caridosa. Exala do ígneo seio

O sol, piedoso e bom, este vivo clarão

Sé para te guiar por entre a cerração.

Fica um minuto mais! por que partir tão cedo?

 

ROMEU:

Mandas? não partirei! esperarei sem medo

Que a morte com a manhã venha encontrar-me aqui!

Sucumbirei feliz, sucumbindo por ti!

Mandas? não partirei! queres? direi contigo

Que é mentira o que vejo e mentira o que digo!

Sim! tens razão! não é da cotovia a voz

Este encantado som que erra em torno de nós!

É um reflexo da Lua a claridade estranha

Que aponta no horizonte acima da montanha!

Fico para te ver, fico para te ouvir,

Fico para te amar, morro por não partir!

Mandas? não partirei! cumpra-se a minha sorte!

Julieta assim o quis: bem-vinda seja a morte!

Meu amor, meu amor! olha-me assim! assim!

 

JULIETA:

Não! é o dia! é a manhã! Parte! foge de mim!

Parte! apressa-te! foge! A cotovia canta

E do nascente em fogo o dia se levanta

Ah! reconheço enfim estas notas fatais!

O dia!… a luz do Sol cresce de mais em mais

Sobre a noite nupcial do amor e da loucura!

 

ROMEU:

Cresce… E cresce com ela a nossa desventura!

 

*

Fonte: Fabio Rocha

 

 


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