7 de novembro de 1901 nascia CECÍLIA MEIRELES – “ELEGIA A UMA PEQUENA BORBOLETA” (categoria: Outros Autores)

Postado por Rita de Cássia ligado nov 7, 2015 em Outros Autores | 0 Comentários

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

7 de novembro de 1901 nasceu CECÍLIA MEIRELES, Poetisa e cronista.


ELEGIA A UMA PEQUENA BORBOLETA


Cécilia Meireles

 


Como chegavas do casulo,


— inacabada seda viva —


tuas antenas — fios soltos


da trama de que eras tecida,


e teus olhos, dois grãos da noite


de onde o teu mistério surgia,



como caíste sobre o mundo


inábil, na manhã tão clara,


sem mãe, sem guia, sem conselho,


e rolavas por uma escada


como papel, penugem, poeira,


com mais sonho e silêncio que asas,



minha mão tosca te agarrou


com uma dura, inocente culpa,


e é cinza de lua teu corpo,


meus dedos, sua sepultura.


Já desfeita e ainda palpitante,


expiras sem noção nenhuma.



Ó bordado do véu do dia,


transparente anêmona aérea!


não leves meu rosto contigo:


leva o pranto que te celebra,


no olho precário em que te acabas,


meu remorso ajoelhado leva!



Choro a tua forma violada,


miraculosa, alva, divina,


criatura de pólen, de aragem,


diáfana pétala da vida!


Choro ter pesado em teu corpo


que no estame não pesaria.



Choro esta humana insuficiência:


— a confusão dos nossos olhos


— o selvagem peso do gesto,


— cegueira — ignorância — remotos


instintos súbitos — violências


que o sonho e a graça prostram mortos



Pudesse a etéreos paraísos


ascender teu leve fantasma,


e meu coração penitente


ser a rosa desabrochada


para servir-te mel e aroma,


por toda a eternidade escrava!



E as lágrimas que por ti choro


fossem o orvalho desses campos,


— os espelhos que refletissem


— vôo e silêncio — os teus encantos,


com a ternura humilde e o remorso


dos meus desacertos humanos!



*


Fonte: Fabio Rocha, para A Magia da Poesia.
(Cecília Meireles)
(De: MEIRELES, Cecília. “Retrato natural”. In: Obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. – fonte: blog do Antonio Cicero)

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