AMEAÇA
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Ameaça: é o signo sob o qual está sendo escrita a história contemporânea, e a futura da humanidade. – Como se já não bastassem a fome, a falta d’água, o analfabetismo, a exclusão social; as doenças sexualmente transmissíveis, as incuráveis; os desentendimentos e as ganâncias políticas; o tráfego, as drogas, a corrupção, a demagogia, a mentira, as guerras, as bombas; as crises econômicas, os monopólios, as ditaduras; os preconceitos ainda insistentes e desnecessários contra a mulher, as ideologias, as raças, e as orientações religiosas e sexuais dos gêneros; o efeito estufa, os desmatamentos, a violência, a matança de animais, as catástrofes naturais, as ameaças nucleares… Todas se autofecundaram? Ou cada um de nós tem algumas responsabilidades nos seus nasceres? Na sua sustentação?
Declaro-me agora, como capaz de não abrir mão da minha “rebeldia” cidadã, como mulher e mãe, e me permito a conclamar a todos os meus conterrâneos a pensarem, debaterem, e se posicionarem contra a instalação de uma usina nuclear em nossos rincões, mais precisamente, no Município de Itacuruba, como informam e querem. – Para tanto, havemos de considerar a insegurança, e os seus preços em dólares e em vidas, enquanto os convido também a raciocinarem comigo sobre o que segue. – Não trato aqui sobre profecias, alarmismos, ou apocalicismos. Trato sob dados da realidade.
Que tipos de seres somos nós que permitimos e nem ao menos questionamos tais ameaças tão dolorosas como as que temos vivido, e que são temas tão universais, a não ser depois da tragédia do Japão? Que coisa é esta que nos mantêm anestesiados como estátuas de gelo em nossas individualidades deixando transparecer em nossos olhares a representação dos papéis, mal representados, que insistimos em manter diante de nossas próprias vidas, e da vida no planeta? Que coisa inédita é esta, porque inexplicável, que faz com que cada uma das pessoas seja incapaz de se aperceber da própria inércia? Que desmando é este que faz com que cada um se mostre renovado e feliz, mesmo que esteja claro na leitura de seus atos e ações, a insensatez que comete mentindo para si próprio, como se nada estivesse havendo no mundo agora? Ou como se todo o passado não tivesse existido? Que inconsciência é esta que subtrai possibilidades, comprometimentos, e mudanças? Que tantas crenças limitantes existem que não nos permitem ultrapassá-las? – Sinceramente, não sei! Mas, com certeza, é tudo propriedade da indigente condição humana, e do desconhecimento da efemeridade; que não é só do outro, ou do que foi circunstancialmente atingido.
Confúcio disse que sábio, não é o que sabe das coisas, mas o que lê os sinais. – A natureza, de todas as formas, nos tem mandado avisos claros, para além de quaisquer sinais, espalhando-os por todos os continentes, indiscriminadamente, dizendo que é hora de parar. E parar, não significa regredir ou retroceder. Parar, nessa hora, significa limitar o desatino, o desvario. Significa que pensar sobre o que realmente se vê e se vive é uma atitude civilizada, madura, e indispensável, apesar de Shakespeare que disse haver muito mais entre o céu e a terra do que possa pensar nossa vã filosofia! – É não ser omisso, porque, com a omissão sim, a sociedade regride, como li um dia desses num outdoor.
Também não é hora de repensar. Não temos mais tempo. Ele urge no sentido de tomarmos uma decisão: ou energia limpa, ou candeeiros e velas! – Mesmo que possam considerar tal afirmativa radical, como ela é. Mas, é bom que se entenda que a vida humana é pelo menos, comum de dois. Não dá para ser diferente. Exatamente como ela, no seu sentido mais definitivo, é única e una com o universo. Não temos por isso o direito de continuar sob a iminência da destruição de nós mesmos, e dela, desde os microorganismos…
Os dados estatísticos demonstram, de maneira inequívoca, que todos os fenômenos da natureza vêm crescendo de maneira ininterrupta. De acordo com a ONU, o número das catástrofes naturais no mundo inteiro vem aumentando nos últimos trinta anos numa taxa média anual de 6%. Há instituições oficiais que já trabalham com a expectativa de que em 2030 possa haver até 54 países usando energia nuclear, quando hoje são 29. – Com a nossa condescendência? – Isto para mim, é trabalhar sob ultimato, e dos piores!
O Japão está devastado, e não há mais como evitar; o Haiti ainda não se refez; o sul do Brasil e o centro sul têm sofrido horrores; outros países também. Todos identicamente, se considerarmos as vidas perdidas, os patrimônios, os prejuízos, o medo definitivamente instalado. – O que falta então para nos perguntarmos o porquê de com tanta tecnologia, tantas pesquisas, e tantos cientificismos, até exatamente agora, não se consegue, por exemplo, não só, não prever, como não evitar tamanhos flagelos? Será que só aprendemos a destruir e devastar o planeta, e não encontramos mais, de volta, o caminho dos sonhos?
O Japão, é a prova. Preparou-se fundamentalmente para a defesa, e para reduzir riscos, e não conseguiu reconhecer onde e porque ocorreram as explosões nucleares de lá, que somente aumentam os índices de contaminação, não obstante todos os cuidados tecnológicos tomados. – A França já se manifestou cautelosamente mesmo tendo cinquenta e oito reatores em seu território; o Brasil tem duas usinas, e projeta ter 9. A Áustria já se manifestou contra, a Itália suspendeu seus programas desde a década de 80; a Alemanha, e a Suíça suspenderam seus contratos para novas. E nós, vamos continuar? – É no mínimo, absurdo!
Somos um país pródigo em ventos, água, sol. Por que não investimos na energia limpa que eles, como matérias primas, nos presenteiam? – Ora, por favor! E ainda propõem uma usina nuclear para Pernambuco? Francamente, é demais! Aceitando vamos apenas continuar na indigência que nos trouxe até aqui, e não nos fez feliz.
Para concluir e para se entenda melhor as questões aqui levantadas, temos outra ótica: é preciso que se saiba ainda que a vibração planetária é afetada e intensificada pela consciência de cada um de nós. Assim é que, cada um que despertar para a consciência de Deus, elevará a vibração do planeta. Isso significa aprender a respeitar, a amar, ter esperanças, e generosidade. Perdoar, compreender, e transformar. Nunca calar. Senão, não se sai da penumbra!
Portanto, pensar sobre o que estamos vivendo, é uma questão indispensável de ecologia pessoal, e existencial.
Célia Labanca
É escritora