FLORBELA ESPANCA
Abro esta página, para receber convidados especiais.
Apresentarei personalidades femininas.
A idéia é intercalar, entre o passado e o presente, figuras marcantes.
O texto não será uma resenha ou crítica literária, antes, o retrato de pessoas que marcam suas presenças no meio artístico, literário, social e/ou político.
Como uma foto clicada, não haverá uma análise específica dessas personalidades, o foco estará restrito a um quadro.
Retorno ao passado, com FLORBELA ESPANCA.
A VIDA DE FLORBELA ESPANCA
FLORBELA ESPANCA nasceu no dia 08 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, Alentejo, filha de José Maria Espanca, cuja mulher, Mariana do Carmo Inglesa Espanca, por não conseguir ter filhos, consentiu que o marido engravidasse Antonia Lobo. Foi registrada como filha de Antonia da Conceição Lobo e de pai incógnito. Batizada com o nome de FLORBELA LOBO. Aos oito anos passou a assinar FLORBELA D’ALMA DA CONCEIÇÃO ESPANCA (legitimada dezenove anos após a sua morte). Foi criada pela família Espanca, mas sempre recebendo a visita da mãe biológica. Dois anos e três meses após o seu nascimento, o pai engravidou novamente Antonia Lobo, o que provocou ciúmes na esposa, que rejeitou a criança e a mãe. O menino de nome APPELES foi também registrado com o nome da mãe e pai incógnito. FLORBELA cresceu sentindo um profundo carinho pelo irmão visto pela sociedade como relação incestuosa. Esta versão foi negada por Maria Luz, dramaturga portuguesa, que disse ser a relação entre os dois muito sólida, talvez pelo inusitado da situação, duas mães e um pai ausente. Contudo, FLORBELA adorava o pai e até lhe perdoara por não tê-la reconhecido oficialmente. Mas tinha crises de nervo que os médicos não conseguiam diagnosticar, e, achavam que ela tinha problemas de ovários, contribuindo, assim, para a doença de pulmão.
FLORBELA fez o secundário em Évora, já casada. Suas primeiras publicações poéticas, inspiradas em Antonio Nobre, foram em jornais. Estudou Direito. Separou-se do marido e passou a lecionar francês, inglês, geografia e história em um Liceu, em Évora. Escreveu poemas, contos, cartas e diários, com a temática: amor, sofrimento e morte.
Foi desprezada pela sociedade da época, que não aceitava seu comportamento de fumar em público. Considerada uma das primeiras feministas de Portugal, principalmente, pelas suas defesas apaixonadas de liberdade e de amor. Teve mais dois outros casamentos, mas não conseguiu ser mãe, visto que abortou, involuntariamente, duas vezes. Permaneceu com o terceiro marido até a morte. Contudo, não foi suficiente para evitar um suicídio consciente e premeditado.
FLORBELA ESPANCA ressurge com o livro SONETOS, antologia dos melhores trabalhos: “Livro de Mágoas”, “Livro de Soror Saudade”, “Charneca em Flor” e “Reliquiae”. Pelo poder da poesia, oferece subsídio para o conhecimento mais profundo da sua vida e da sua obra. Poesia de rara beleza, cúmplice dos seus sentimentos, desnuda-lhe os segredos e proporciona vasto material a ser estudado por um prisma psicanalítico.
Este círculo, que principia com o nascimento de uma Flor que não brotou do amor, fecha-se com o último e definitivo enclausuramento, a morte. Toda a travessia de FLORBELA foi de anseios, procuras, tolhidos pelo próprio abismo da sua alma. Não superou os estranhamentos do seu nascimento. Quanto mais buscava vida, amor, mais os elementos repressores, subjacentes, levavam-na à clausura. Os castelos e conventos, num jogo de interdição, tiravam-lhe a chance de ser feliz. Lutou contra uma sociedade repressora, mas soube divinamente enviar sua mensagem, seu grito de revolta, seu testemunho de vida ao utilizar uma linguagem que tão bem conhecia: a poesia; necessidade de autopunição ou sentimento inconsciente de culpa e elemento sexualmente presente, tudo numa fusão instintiva:
Seja o que for, será melhor que o mundo!
Tudo será melhor do que esta vida.