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SONATA DAS MUSAS ESCARLATES
Nos olores dos aloendros escarlates, as musas todas.
O escarlate em sua noite cria a linguagem por dentro.
Por dentro da madrugada, os gemidos escarlates
de Cássia sobre a alfombra de folhas dos cajueiros.
Os tempos extinguiram os corpos, distantes,
mas os mares e os risos ainda estão envolvidos.
Outrora, a água e a cidra, os barcos nos azulejos,
outrora, por dentro do corpo da noite recendiam os jasmins,
outrora, Quitéria era infanta e se fazia escarlate ao cantar do galo.
À noite, os vestidos de verbenas eram imortais.
No mais, tudo era gozo e rito nas liturgias do céu.
Às vezes, as borboletas fazem um culto à memória de Margarete,
e os ventos povoam as pedras dos jazigos daqueles anos azuis
que jazem aqui, dentro do peito, e nos arrabaldes que vejo.
E era Linda, com os olhos sombreados dentro da noite,
e eu todo perdido nos aromas de avelã de sua volúpia,
e sobre suas ancas escarlates estou, como o mar por dentro.
E, na noite do mar adolescente, Aliane e seus cheiros:
nas pupilas das águas, no âmago das praias, envolvidos.
O verde do mar e o sangue das verbenas, enredados
no negror da noite. E eu ouvia Carla e me envolvia
nas trepadeiras dos seus cabelos, no seu templo de música.
E pelos céus da minha paixão desfilavam em flor e fogo
os vultos de Vilma e de Vanessa – estandartes escarlates.
Assim, Duíno Selvagem, breve como as águas do Sertão,
estendo as musas escarlates que perenizam minha saga.
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO