ANTONIO GONÇALVES DIAS – 10/08/1823>03/11/1864 (Artigos)

Postado por Rita de Cássia ligado ago 10, 2012 em Artigos / Crônicas | 0 Comentários

 

ANTONIO GONÇALVES DIAS

10/08/1823, Caxias (MA) 03/11/1864, naufrágio do navio Ville de Boulogne, Atins (MA)

Gonçalves Dias incorporou uma ideia de Brasil à literatura nacional

Aluno de Direito em Coimbra a partir de 1840, Gonçalves Dias foi colega dos principais escritores da primeira fase do Romantismo português. Inspirado por essa convivência e a saudade da pátria, escreveu a “Canção do Exílio” – poema que se tornou tão célebre que alguns de seus versos são citados no Hino Nacional brasileiro. Orgulhoso do fato de ser descendente de brancos, índios e negros, seu pai era o comerciante português João Manuel Gonçalves Dias, e a mãe, Vicência Ferreira, mestiça.

De volta ao Brasil, viveu no Rio de Janeiro entre 1846 e 1854. Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História do Colégio Pedro II, e fundou a revista literária “Guanabara” junto com Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo.

Em 1851, a mãe de Ana Amélia Ferreira não concordou com a paixão do mestiço Gonçalves Dias por sua filha. Várias de seus poemas, inclusive “Ainda uma vez, Adeus” foram escritos para Ana Amélia. Frustrado, casou-se no Rio, em 1852, com Olímpia Carolina da Costa, de quem se separou em 1856.

Nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, viveu na Europa de 1854 a 1858, em missão oficial de estudos e pesquisa. Viajou para a Alemanha, onde o livreiro-editor Brockhaus editou os primeiros quatro cantos de “Os Timbiras”, compostos dez anos antes. Voltou ao Brasil e, entre 1861 e 62, navegou pelos rios Madeira e Negro, com uma missão científica de exploração.

De 1863 a 1864, viajou pela Europa em busca de tratamento para sua saúde bastante abalada. Passou por estações de cura de várias cidades europeias. Em 10 de setembro de 1864, embarcou para o Brasil no navio Ville de Boulogne, que naufragou nas costas do Maranhão. O poeta foi a única vítima, aos 41 anos de idade, porque não teve forças para sair do camarote.

Segundo a crítica, suas principais obras literárias foram escritas até 1854: os “Cantos”, as “Sextilhas”, a “Meditação”, os trechos iniciais de “Os Timbiras”, e a peça de teatro “Leonor de Mendonça”. No período final, favorecido pelas comissões oficiais e as viagens à Europa, escreveu o “Dicionário da Língua Tupi”, os relatórios científicos, as traduções do alemão, e o final da epopéia “Os Timbiras”.

Sua obra pode ser enquadrada no Romantismo. Procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. Ao lado de José de Alencar, desenvolveu o indianismo

Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/antonio-goncalves-dias.jhtm

Ainda Uma Vez Adeus

I

Enfim te vejo! – enfim posso,

Curvado a teus pés, dizer-te,

Que não cessei de querer-te,

Pesar de quanto sofri.

Muito penei! Cruas ânsias,

Dos teus olhos afastado,

Houveram-me acabrunhado

A não lembrar-me de ti!

II

Dum mundo a outro impelido,

Derramei os meus lamentos

Nas surdas asas dos ventos,

Do mar na crespa cerviz!

Baldão, ludíbrio da sorte

Em terra estranha, entre gente,

Que alheios males não sente,

Nem se condói do infeliz!

III

Louco, aflito, a saciar-me

D’agravar minha ferida,

Tomou-me tédio da vida,

Passos da morte senti;

Mas quase no passo extremo,

No último arcar da esperança,

Tu me vieste à lembrança:

Quis viver mais e vivi!

IV

Vivi; pois Deus me guardava

Para este lugar e hora!

Depois de tanto, senhora,

Ver-te e falar-te outra vez;

Rever-me em teu rosto amigo,

Pensar em quanto hei perdido,

E este pranto dolorido

Deixar correr a teus pés.

V

Mas que tens? Não me conheces?

De mim afastas teu rosto?

Pois tanto pôde o desgosto

Transformar o rosto meu?

Sei a aflição quanto pode,

Sei quanto ela desfigura,

E eu não vivi na ventura…

Olha-me bem, que sou eu!

VI

Nenhuma voz me diriges!…

Julgas-te acaso ofendida?

Deste-me amor, e a vida

Que me darias – bem sei;

Mas lembrem-te aqueles feros

Corações, que se meteram

Entre nós; e se venceram,

Mal sabes quanto lutei!

VII

Oh! se lutei!… mas devera

Expor-te em pública praça,

Como um alvo à populaça,

Um alvo aos dictérios seus!

Devera, podia acaso

Tal sacrifício aceitar-te

Para no cabo pagar-te,

Meus dias unindo aos teus?

VIII

Devera, sim; mas pensava,

Que de mim t’esquecerias,

Que, sem mim, alegres dias

T’esperavam; e em favor

De minhas preces, contava

Que o bom Deus me aceitaria

O meu quinhão de alegria

Pelo teu, quinhão de dor!

IX

Que me enganei, ora o vejo;

Nadam-te os olhos em pranto,

Arfa-te o peito, e no entanto

Nem me podes encarar;

Erro foi, mas não foi crime,

Não te esqueci, eu to juro:

Sacrifiquei meu futuro,

Vida e glória por te amar!

X

Tudo, tudo; e na miséria

Dum martírio prolongado,

Lento, cruel, disfarçado,

Que eu nem a ti confiei;

“Ela é feliz (me dizia)

“Seu descanso é obra minha.”

Negou-me a sorte mesquinha…

Perdoa, que me enganei!

XI

Tantos encantos me tinham,

Tanta ilusão me afagava

De noite, quando acordava,

De dia em sonhos talvez!

Tudo isso agora onde pára?

Onde a ilusão dos meus sonhos?

Tantos projetos risonhos,

Tudo esse engano desfez!

XII

Enganei-me!… – Horrendo caos

Nessas palavras se encerra,

Quando do engano, quem erra.

Não pode voltar atrás!

Amarga irrisão! reflete:

Quando eu gozar-te pudera,

Mártir quis ser, cuidei qu’era…

E um louco fui, nada mais!

XIII

Louco, julguei adornar-me

Com palmas d’alta virtude!

Que tinha eu bronco e rude

C’o que se chama ideal?

O meu eras tu, não outro;

Stava em deixar minha vida

Correr por ti conduzida,

Pura, na ausência do mal.

XIV

Pensar eu que o teu destino

Ligado ao meu, outro fora,

Pensar que te vejo agora,

Por culpa minha, infeliz;

Pensar que a tua ventura

Deus ab eterno a fizera,

No meu caminho a pusera…

E eu! eu fui que a não quis!

XV

És doutro agora, e pr’a sempre!

Eu a mísero desterro

Volto, chorando o meu erro,

Quase descrendo dos céus!

Dói-te de mim, pois me encontras

Em tanta miséria posto,

Que a expressão deste desgosto

Será um crime ante Deus!

XVI

Dói-te de mim, que t’imploro

Perdão, a teus pés curvado;

Perdão!… de não ter ousado

Viver contente e feliz!

Perdão da minha miséria,

Da dor que me rala o peito,

E se do mal que te hei feito,

Também do mal que me fiz!

XVII

Adeus qu’eu parto, senhora;

Negou-me o fado inimigo

Passar a vida contigo,

Ter sepultura entre os meus;

Negou-me nesta hora extrema,

Por extrema despedida,

Ouvir-te a voz comovida

Soluçar um breve Adeus!

XVIII

Lerás porém algum dia

Meus versos d’alma arrancados,

D’amargo pranto banhados,

Com sangue escritos; – e então

Confio que te comovas,

Que a minha dor te apiade

Que chores, não de saudade,

Nem de amor, – de compaixão.

 

 

 

 

 

 

 

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