“VIM PARA MATAR OU MORRER”
Tragédia da Piedade
15/08/1909 – Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, foi assassinado pelo aspirante Dilermando de Assis, amante de Ana, mulher do escritor. Na chuvosa manhã de domingo, quando Euclides chegou à casa de número 214 da Estrada Real de Santa Cruz, em Piedade, por volta das 10h. Dinorah, irmão do assassino, lhe abriu a porta. Na sala de jantar, Euclides encontrou a mulher, Ana, e Sólon e Luiz, seus filhos, que acabavam de tomar o café da manhã. Dilermando estava no quarto se trocando e, segundo seu depoimento, Euclides teria apenas lhe dito: “Vim para matar ou morrer”. E começou a atirar contra o amante da mulher, que abandora o escritor três dias antes e, há dois, estava na casa do aspirante. Três disparos acertaram Dilermando. Um quarto acertou Dinorah que tentava socorrer o irmão. Euclides deu as costas para o banho de sangue que provocara e deixou a casa. Quando cruzava o jardim, Dilermando, cambaleante, surgiu na soleira da porta com a arma em punho. De acordo com os vizinhos, que já se amontoavam na calçada, o aspirante disse “espera, cachorro”, antes de acertar um único e mortal tiro no escritor. Dilermando conheceu Ana, amiga de uma tia sua, logo que chegou ao Rio, em 1903, justamente num período em que Euclides se encontrava no Acre. Pouco depois, os dois iniciaram a ter um caso, a ponto de todos desconfiarem – inclusive o escritor – de que o filho mais novo do casal era, na verdade, de Dilermando. O aspirante foi hospitalizado e os médicos afirmam que escapará da morte. Assim que deixar o hospital, deverá receber ordem de prisão. Segundo a família do escritor, Sólon estava na cena do crime porque teria ido, na véspera, a pedido do próprio Euclides, procurar a mãe para marcar um encontro entre ela e o pai. Encontro este que deveria ter se realizado no domingo, mas em outras circunstâncias.
Fonte: Reprodução do JORNAL DO SÉCULO – Um produto do Jornal do Brasil – 1909