Jornal da UBE nacional
São Paulo, setmbro de 2012 – nº 36
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
TATIANA BELINKY eleita Intelectual do Ano de 2012
Escritora teve 119 votos contra 58 de Adib Jatene
“Para receber o Juca Pato vou até de padiola”. Foi assim, esbanjando a alegria de uma menina de 93 anos, mesmo com a mobilidade restrita, que Tatiana Belinky reagiu quando o presidente Joaquim Maria Botelho perguntou-lhe onde gostaria de receber o Troféu Juca Pato como ganhadora do Prêmio de Intelectual do Ano. Ela obteve 118 votos contra 58 do cardiologista Adib Jatene, A entrega do prêmio deverá ser no auditório da Academia Paulista de Letras, em data ainda a ser confirmada.
A escritora que nasceu na extinta União Soviética e veio para o Brasil com 10 anos, concorreu com a mais recente de sua rica produção de contos e poesias para crianças: Língua de Criança – Limeriques às soltas, livro lançado pela Global Editora em 2011. A disputa entre ela e o cardiologista Adib Jatene – que concorreu com olivro 40 anos de Medicina – o que mudou? – em parceria com o ministro Alexandre Padilha, quebrou jejum de oito anos sem eleição direta do Prêmio Intelectual do Ano.
– A disputa reuniu dois candidatos fortes e carismáticos, avaliou Joaquim Maria Botelho, presidente da UBE. . Talvez, por isso, a eleição tenha sido mais qualitativa do que quantitativa. Eles foram votados em pelo menos 10 estados brasileiros e também por associados que moram nos Estados Unidos, França, Alemanha, Costa Rica e Nova Zelândia.
Os dois candidatos tinham um motivo a mais para aceitar a indicação dos associados da UBE e enfrentar as urnas: este ano comemora-se o cinquentenário do Troféu Juca Pato, personagem criado pelo jornalista e cartunista paulista Benedito Bastos Barreto, o Belmonte, e que foi transformado em troféu pelo escritor Marcos Rey para homenagear o Intelectual do Ano. No ano passado, o Prêmio Intelectual do Ano foi concedido, por unanimidade, ao professor e pesquisador Aziz Ab’ Sáber, que recebeu o Troféu Juca Pato na cerimônia de encerramento do Congresso Brasileiro de Escritores, em novembro passado, no Theatro Pedro II, em Ribeirão Preto.
A escritora que queria ser Emília
Ela nasceu no dia 18 de março de 1919 na cidade de Petrogrado, antiga União Soviética, e chegou ao Brasil com a família dez anos depois, fugindo da perseguição aos judeus. “Sou mais brasileira que muitos brasileiros. Estou aqui há 65 anos, há mais tempo que a maioria”, diz Tatiana, brava com quem duvide de seu amor pelo Brasil. Tanto quanto pelas crianças, combustível de sua fértil produção literária (cerca de 100 livros) , iniciada só em 1985 quando começou a escrever as primeiras Limeriques (poemas com rima e métrica bem definidas), publicadas dois anos depois.
Filha de Aron e Rosa, comerciante e cirurgiã-dentista, e irmã de Abram e Benjamim, a menina Tatiana aprendeu a ler no idioma materno, o russo, aos quatro anos de idade e até os dez já era fluente também em alemão. Na adolescência, em São Paulo, trabalhou como secretária bilíngue. Em 1939, começou a estudar Filosofia na Faculdade São Bento, mas abandonou o curso em 1940 em razão de seu casamento com o médico Júlio de Gouveia.
De 1948 a 1951, criou com o marido várias adaptações de histórias infantis para teatro. Nessas encenações, Tatiana fazia o roteiro e o marido, a direção. Em 1952, o casal encenou sua bem-sucedida adaptação “Os três ursos” na extinta TV Tupi. Com o sucesso, a Tupi convidou o casal para elaborar o programa “Fábulas Animadas”, preenchendo uma lacuna da programação da época para o público infanto-juvenil. Em seguida, o casal fez a primeira adaptação televisiva do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, de Monteiro Lobato, exibida em horário nobre. Seguiram-se outros programas de sucesso, sempre na linha de adaptações para o público infanto-juvenil, que estiveram no ar até 1966. Esses programas tinham sempre o propósito explícito de estimular a leitura entre os jovens, criando nestes a curiosidade de ler os originais das adaptações.
Paralelamente ao trabalho de roteirista de teatro e televisão, Tatiana Belinky deu início, em 1952, à atividade como tradutora literária, iniciada com suas adaptações de peças de teatro infantis e contos russos. Traduziu mais de 80 livros do russo, alemão, inglês e francês. Entre os textos que traduziu e adaptou estão obras de autores como Dostoiévski, Tolstói, Gorki, Gogol, Turgueniev, Goethe, Brecht, Irmãos Grimm e Lewis Carroll. Sua especialidade sempre foi a literatura infantil russa, ajudando a divulgar a cultura russa entre crianças e adolescentes. O reconhecimento de seu trabalho rendeu-lhe o Prêmio Monteiro Lobato de Tradução em 1988 e 1990.
Também atuou, a partir de 1972, como crítica de literatura infanto-juvenil e de teatro, como colaboradora dos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde e da TV Cultura.
Tatiana Belinky é autora premiada em literatura e teatro. Recebeu o Prêmio Mérito Educacional em 1979 e o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano em 1989, entre outras premiações.
Em 1994, deixou de atuar como tradutora, mas não abandonou sua atuação como escritora, dedicando-se também a livros de contos e memórias. Em 2010, Tatiana Belinky foi eleita para a Academia Paulista de Letras, onde receberá o Troféu Juca Pato como Intelectual do Ano.
FRASES
“Quando eu era pequena, queria ser bruxa. Porque bruxa tem poder. Não bruxa feia. Queria ser bruxa bonita. Como a madrasta da Branca de Neve, que era linda. Mas, depois que eu conheci a Emília, eu disse ‘não, agora quero ser a Emília’. Muito melhor. Ela também tinha poderes: o poder do senso do humor, o da contestação”.
“Sou antiga, mas não sou velha, porque dentro de mim continua vivinha a criança que fui e isto me permite estar em sintonia com crianças e jovens, com quem procuro repartir minhas curtições de ontem e de hoje”.
“Meu prêmio maior é saber que meus livros irão para as mãos das crianças, e se elas sorrirem, ou se emocionarem, ou ficarem pensativas, eu ficarei feliz”.
“Porque, para quem sabe prestar atenção em cada pequena coisa que acontece – ou não acontece, é só pensada ou imaginada -, a vida de todos os dias é cheia de coisas bonitas, alegres, tristes, intrigantes, interessantes…É só cada um usar os seus “olhos de ver”, sabiam?”
“Criança é um público maravilhoso, interessado e inteligente. Nunca se deve subestimar a inteligência de uma criança. Fazem perguntas que precisamos estar prontos para responder ou honestos o suficiente para dizer não sei’.
“Os pais me perguntam: eu mando meu filho ler, mas ele não lê!. O que eu faço? Comece por não mandar. Livro não é castigo, não é tarefa, não é chateação. Tem de ser curtição, prazer”.
“A fantasia é tudo. Sempre digo aos pequenos que o livro é um objeto mágico, muito maior por dentro do que por fora. Por fora, ele tem a dimensão real, mas dentro dele cabe um castelo, uma floresta, uma cidade inteira… Um livro a gente pode levar para qualquer lugar. E com ele se leva tudo”.
Fonte: Reprodução UBE-SP – recebido por e-mail.
*