14 de março – DIA DA POESIA – CASTRO ALVES (Artigos)

Postado por Rita de Cássia ligado mar 14, 2013 em Artigos / Crônicas | 0 Comentários

14 de março – DIA DA POESIA

A homenagem reporta à data de nascimento do grande poeta baiano ANTONIO DE CASTRO ALVES, 14 de março de 1847.

“Era por uma dessas tardes em que o azul do céu oriental — é pálido e saudoso, em que o rumor do vento nas vergas — é monótono e cadente, e o quebro da vaga na amurada do navio — é queixoso e tétrico.

Das bandas do ocidente o sol se atufava nos mares “como um brigue em chamas…” e daquele vasto incêndio do crepúsculo alastrava-se a cabeça loura das ondas.

Além, inda mais longe… os cimos fantásticos da serra dos Órgãos embebiam-se na distância, sumiam-se, abismavam-se numa espécie de naufrágio celeste.

Só e triste, encostado à borda do navio, eu seguia com os olhos aquele esvaecimento indefinido e minha alma apegava-se à forma vacilante das montanhas — derradeiras atalaias dos meus arraiais da mocidade.

É que lá, dessas terras dos sul, para onde eu levara o fogo de todos os entusiasmos, o viço de todas as ilusões, os meus vinte anos de seiva e de mocidade, as minhas esperanças de glória e de futuro;… é que dessas terras do sul, onde eu penetrara “como o moço Rafael subindo as escadas do Vaticano”;… volvia agora silencioso e alquebrado… trazendo por única ambição — a esperança de repouso em minha pátria.

Foi então que, em face destas duas tristezas — a noite que descia dos céus, — a solidão que subia do oceano —, recordei-me de vós, ó meus amigos!

E tive pena de lembrar que em breve nada restaria do peregrino na terra hospitaleira, onde vagara; nem sequer a lembrança desta alma, que convosco e por vós vivera e sentira, gemera e cantara…

Ó espíritos errantes sobre a terra! Ó velas enfunadas sobre os mares!… Vós bem sabeis quanto sois efêmeros… — passageiros que vos absorveis no espaço escuro, ou no escuro esquecimento.

E quando — comediantes do infinito — vos obumbrais nos bastidores do abismo, o que resta de vós?

— Uma esteira de espumas… — flores perdidas na vasta indiferença do oceano. —Um punhado de versos… — espumas flutuantes no dorso fero da vida!…

E o que são na verdade estes meus cantos?…

Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento, eles são filhos da musa — este sopro do alto; do coração — este pélago da alma.

E como também o aljofre dourado das espumas reflete as opalas, rutilantes do arco-íris, eles por acaso refletiram o prisma fantástico da ventura ou do entusiasmo — estes signos brilhantes da aliança de Deus com a juventude!

Mas, como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima saudosa do marujo… possam eles, ó meus amigos! — efêmeros filhos de minh’alma — levar uma lembrança de mim às vossas plagas!

Castro Alves

Prólogo – ESPUMAS FLUTUANTES

PENSO EM TI

Eu penso em ti nas horas de tristeza

Quando rola a esperança emurchecida

Nas horas de saudade e morbideza

Ai! Só tu és minha ilusão querida

Eu penso em ti nas horas de tristeza.

Vê quanta sombra me escurece o seio!

Que palidez sombria no meu rosto!

Tu és a única luz da treva em meio

Tu és a minha estrela do sol posto…

Contigo a sombra não me tolda o seio.

Quando a teus pés o meu viver s’escoa,

Esqueço a minha sorte, o meu martírio,

Minh’alma como a pomba em sangue voa

Para ir se abrigar à tua, ó lírio,

Quando a teus pés o meu viver s’escoa…

Bendito o riso desses lábios túmidos!

Bendito o meigo olhar tão peregrino!

Como o sol abre a flor nos campos úmidos

Crenças desperta o teu olhar divino…

E o riso, o riso desses lábios túmidos

Ai! volve! volve peregrina estrela…

Minh’alma é o templo de um amor suave

À tua espera o lampadário vela…

À tua espera perfumou-se a nave…

Ai! volve! volve peregrina estrela!

Obs.: Julgava Afrânio Peixoto que a data destes versos era de 1868, quando o Autor já havia sido abandonado por Eugênia Câmara. A hipótese é plausível, pois tal poesia não consta da resenha do livro projetado “Dramas D’Alma” conjeturalmente anterior à ruptura de seus amores com a atriz lusitana. O tom é de ansiada expectativa, como a da “Canção do Boêmio”, escrita no mesmo ano. (Eugênio Gomes)

 

 

 

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