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MARILDA CONFORTIN
UM BRINDE!
Poesia é uma Flor Bela que Espanca,
fere, maltrata.
Poesia quando ataca provoca cirrose,
divórcio, neurose, taquicardia, tuberculose…
Poesia mata!
Por isso os grandes poetas estão mortos.
Por isso os poetas vivos são assim tão tortos.
Só loucos, vivem a poesia em sua essência.
Em sã consciência,
a hipocrisia desta vida é insalubre,
arde feito urtiga e é mais fria
do que a vodka Maiakowski que consumia Leminski.
Por isso brindo
a todos os malditos poetas
seres viscerados pelo avesso,
não servis,
citados, anônimos e abominados
que rabiscam e recitam seus manuscritos
pelos botecos, sebos, saraus e feiras
livres prisioneiros da poesia.
Aos benditos que publicam e são lidos,
e aos ficam empoeirados,
empoleirados nas prateleiras,
criando teia,
esperando que um dia alguém os leia.
Aos que travestem a poesia com barro,
tinta, efeitos virtuais,
acordes musicais e passam pela vida
despercebidos.
Um brinde aos que partem cedo,
com medo de verem suas almas
sendo dissecadas por críticos estúpidos.
Poesia é de quem precisa dela, já dizia Neruda.
Se você não precisa,
não leia,
não ouça,
não toque!
Ela é como um feto:
precisa de calor e útero
e não de um fórcipe obstetra.
Brindo àqueles que atuam à luz do dia,
nesse imenso palco,
de paletó, gravata, saia justa, salto alto,
e esperam impacientes a aposentadoria
para enfim, dedicarem-se à poesia.
Aos que entraram na fila errada,
e estão neste mundo por engano
só para diversão dos deuses:
Não escrevem, não cantam,
não esculpem nem declamam.
Mas sentem, amam e acolhem
anonimamente a poesia em seus ventres.
Um brinde a todos os recipientes!
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