WANGARI E AS ÁRVORES DA PAZ – Clube de Contadores de Histórias (Outros Autores)

Postado por Rita de Cássia ligado abr 12, 2013 em Outros Autores | 1 Comentário

 

 

 

 

 

 

 

 

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Clube das Histórias

Projecto: Abrir as portas ao sonho e à reflexão

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Esta história faz parte de um ciclo em que a figura feminina aparece como elemento central

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WANGARI E AS ÁRVORES DA PAZ

A terra estava despida. Para mim, a missão

era tentar voltar a cobri-la de verde.

Wangari Maathai

Wangari vive sob as árvores, à sombra do Monte Quénia, em África.

Ouve o cantar dos pássaros na floresta, sempre que vai com a mãe buscar lenha para cozinhar, e ajuda-a apanhar as batatas-doces, a cana-de-açúcar e o milho da terra fértil. Wangari é boa aluna e, quando cresce, alta como as árvores do bosque, ganha uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. Seis anos depois, acabado o curso, regressa a casa, no Quénia, e vê que entretanto muita coisa mudara.

“O que aconteceu?”, interroga-se. “Onde estão as árvores?”

Wangari vê as mulheres curvadas sob o peso da lenha que tiveram de ir buscar a quilómetros e quilómetros de casa. Vê a terra despida, em que nada cresce.

“Onde estão os pássaros?”

Milhares de árvores foram cortadas para construir edifícios, mas ninguém plantara novas árvores em substituição. “O Quénia inteiro irá converter-se num deserto?”, pergunta-se. Wangari pensa na terra seca. “Posso começar por semear algumas árvores aqui no meu quintal, uma a uma”.

Começa com nove.

Ao ver os pequenos caules ganhar raízes, Wangari enche-se de ânimo para continuar a plantar e inicia um viveiro. Num descampado, Wangari planta pequenas árvores, fiada atrás de fiada. Em seguida, convence as mulheres das aldeias de que plantar árvores é algo de bom. Dá uma pequena árvore a cada uma.

— Verão que nossa vida será melhor quando voltarmos de novo a ter árvores. Estamos a lançar à terra sementes de esperança.

As mulheres espalham-se pelas suas aldeias e plantam longas fiadas de pequeninas árvores que se estendem como um cinto verde por todo o campo. Os funcionários do governo riem-se.

— As mulheres não são capazes de o fazer — dizem eles. — Só os serviços florestais é que sabem plantar árvores.

As mulheres ignoram a troça e continuam a plantar.

Wangari paga-lhes uma pequena quantia por cada planta que tenha pegado ao fim de três meses depois da plantação. É a primeira vez na vida que ganham dinheiro.

A palavra corre como o murmúrio do vento entre a ramagem: o verde voltou à aldeia de Wangari. Depressa as mulheres de outras cidades, aldeias e povoados do Quénia começam também a plantar longas fiadas de pequenas árvores. Porém, o abate não para. Wangari opõe-se, firme como um carvalho, a fim de proteger as velhas árvores que ainda restam.

— Precisamos mais de um parque verde do que de um prédio de escritórios.

Mas os funcionários do governo não estão de acordo.

Wangari impede-lhes a passagem. É presa e metida na cadeia, sob a acusação de ser uma agitadora. Mantém-se firme. “O que é correto é correto, mesmo que se fique só”. Mas Wangari não está só.

O seu apelo a favor das árvores espalha-se por toda a África, como as ondas na água do lago Vitória. Muitas mulheres inteiram-se da notícia e plantam ainda mais árvores, em fiadas cada vez mais longas. Os caules ganham raízes e crescem bem alto, a ponto de haver mais de trinta milhões de árvores onde antes não havia nenhuma.

A floresta verde do Quénia renasce. As mulheres já caminham de cabeça erguida e costas direitas, agora que podem apanhar lenha perto de casa. A terra já não está seca. Batata-doce, cana-de-açúcar e milho crescem de novo na terra escura e fértil.

No mundo inteiro ouve-se falar das árvores de Wangari e do seu exército de mulheres plantadoras. E quem subir ao cume do Monte Quénia verá milhões de árvores a crescer lá em baixo, o verde que Wangari fez renascer em África.

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NOTA DA AUTORA

Wangari Maathai nasceu em 1940 no Ihithe, uma pequena aldeia na verde e fértil terra do Quénia. Wangari era uma estudante brilhante e ganhou a “bolsa de estudos Kennedy,” o que lhe permitiu tirar uma licenciatura e um mestrado em Ciências Biológicas nos Estados Unidos. Regressou ao Quénia para concluir os estudos na Universidade de Nairobi. Foi a primeira mulher na África Oriental a tirar um doutoramento. Professora universitária é, atualmente, membro do Partido do Quénia.

Wangari iniciou o Movimento Verde do Quénia em 1977, no Dia Mundial do Meio Ambiente, plantando nove pequenas árvores no quintal atrás da sua casa. Foi a primeira ação para contrabalançar a massiva desflorestação do país. Com a falta de árvores, a vida diária do campo mudara, especialmente para as mulheres: a lenha para casa era escassa, a terra estava em erosão e empobrecida e não havia água potável. O deserto avançava, arrasando campos onde outrora houvera árvores e colheitas abundantes.

Wangari recrutou mulheres da sua aldeia para a ajudarem a plantar mais árvores. Em 2004 já se tinham plantado trinta milhões de árvores, havia seis mil viveiros no Quénia, oitenta mil famílias viram os seus rendimentos aumentados e o movimento já se tinha estendido a trinta países africanos.

Wangari Maathai ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2004 pelo seu contributo para a paz no mundo através do Movimento Verde. Na tradição africana, a árvore é um símbolo de paz. Ao saber que tinha ganho o prémio, Wangari plantou no sopé do Monte Quénia uma Nandi flame, uma árvore autóctone africana. No seu discurso de aceitação do Prémio Nobel, disse:

Temos de curar as feridas da Terra…

Só assim curaremos as nossas próprias feridas.

Temos de abraçar a criação em toda a sua diversidade,

beleza e maravilha.

Jeanette Winter

Wangari y los árboles de la paz

Barcelona, Ediciones Ekaré, 2009

(Tradução e adaptação)

Caros leitores,

O Projecto intitulado Clube de Contadores de Histórias, nascido em 2006 na Escola Secundária Daniel Faria – Baltar, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa, não só em Portugal, mas também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a continuidade de referido clube, foi constituída uma equipa pedagógica, formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que tomarão a seu cargo a selecção, preparação e envio de uma história semanal por correio electrónico, tal como habitualmente tem vindo a ser feito.

Esperando que o projecto continue a merecer a melhor atenção por parte do público leitor, despede-se com os melhores cumprimentos,

A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

acb@contadoresdehistorias.com

Nota: WANGARI MAATHAI faleceu no dia 25 de setembro de 2011, aos 71 anos de idade, vítima de câncer.

 

 

 

 

1 Comentário para “WANGARI E AS ÁRVORES DA PAZ – Clube de Contadores de Histórias (Outros Autores)”

  1. Fabio Olimpico disse em:

    aqui na amazônia queremos pessoas desse jeito para proteger nossas florestas, porque as geraçoes futuras talvez não irão ver arvores de pé. temos que acabar com a “cultura” de que para produzir alimento devemos destruir a natureza.

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