DIA INTERNACIONAL DA MULHER > UMA REDE FEMININA DE LITERATURA – por Marluce Portugaels (categoria: Outros Autores)

Foto by Varal do Brasil. Marluce Portugaels > quarta da esquerda para a direita.

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UMA REDE FEMININA DE LITERATURA

Por Marluce Portugaels

Nunca fui de fazer parte de associações ou assemelhados que impusessem à minha mente sua maneira de pensar. Foi assim ao longo de minha vida, desde a mais tenra idade. Acho que saí ao meu pai! Nos tempos do colégio católico em que todas as meninas de minha família estudaram – inclusive eu –as Irmãs não conseguiram me convencer da importância de ser membro da ordem da beata Laura de Vicunha, uma jovem mártir, para uma menina fortalecer a fé. À mesma época, durante as férias escolares em casa de meus avós maternos, no Alto Rio Juruá, onde nasci, aceitei dar aulas de catecismo às crianças menores do que eu, mas não aceitei entrar na ordem da Cruzada, mesmo tendo o privilégio de portar uma bela faixa amarela, que pendia do ombro à cintura. Mais tarde, já professora universitária, quando para ser considerada engajada dever-se-ia filiar ao Partido dos Trabalhadores, recusei! Sem contar que as reuniões sindicais me davam sono, dado o grau de ideologia que delas emanava. Um paquera que sempre que me via me perguntava qual era minha ideologia não durou muito tempo.

Anos depois dessas experiências, travei conhecimento com uma associação de escritoras que me chamou a atenção, não somente pela isenção de conteúdo ideológico, mas, sobre tudo pelo embasamento filosófico. Mesmo com a ressalva de abrigar somente mulheres, fui atraída pela REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras, uma organização sem fins lucrativos, dirigida pela escritora Joyce Cavalccante, uma mulher interada. Enquadrar-se na categoria de Mulher Interada, segundo meu velho e saudoso pai, significa ser mulher de atitude, ter iniciativa, ser empreendedora, ser determinada e dotada de uma visão de mundo que a leve a enxergar o que para outros parece obscuro. A mulher interada traça seus objetivos e procura realizá-los com inteligênciae sabedoria.

Assim se comportou Joyce Cavalccante ao fundar a REBRA 15 anos atrás. Ela iniciou uma rede para a mulher que gosta de escrever. Talvez como Virginia Woolf, a grande escritora inglesa da primeira metade do século XX, ela acreditou que desde que a mulher conquistasse sua independência econômica e tivesse um lugar para chamar de seu, ela poderia criar obras geniais como os homens. Assim, ao criar a REBRA, Joyce pretendia alargar a presença da mulher escritora no panorama da literatura brasileira, ampliando o alcance dessa mesma literatura além de nossas fronteiras. Pretendia proporcionar a essa mesma mulher oportunidades que a levassem a crescer mais e mais de forma que sua voz ecoasse bem longe, contribuindo para o aumento do público leitor.

Pode-se dizer que a personalidade da Rede de Escritoras Brasileiras está expressa em seu lema, “A chama de uma tocha, utilizada para acender outra tocha irá multiplicar a luz em vez de roubá-la”. O ponto forte da missão e do lema dessa Rede é criar condições para que a voz da mulher que gosta de escrever ecoe bem forte, transcendendo os limites que lhe foram impostos. Isso feito, que as obras por ela publicadas se multipliquem, enchendo bibliotecas e até outros lugares, quer sejam físicos, quer virtuais. Para que essa mulher, de espírito laborioso, aproveitando as oportunidades que lhe são dadas, produza obras universais no campo da literatura, conforme predisse Virginia Woolf. Em uma conferência, à pergunta “O que é uma mulher?” ela respondeu, “Eu não sei. E acho que ninguém sabe. Somente a partir do momento em que a mulher se expressar em todas as artes e profissões abertas às capacidades humanas, como os homens o fazem, saber-se-á o que é uma mulher!”

Para concluir, tudo leva a crer que com o apoio de organizações como a REBRA, que têm à frente pessoas como Joyce Cavalccante, a mulher do século XXI está vaticinada a realizar obras geniais ao lado do homem, seja na literatura, seja em qualquer outra manifestação artística, científica, tecnológica. Vamos chegar lá! Feliz Dia da Mulher!

Um abraço,

Marluce Portugaels

Fonte: Rede de Escritoras Brasileiras-REBRA (recebido por e-mail)