COMENTÁRIO SOBRE “DIÁRIO DE MARIA BEATRIZ”
Autora: Jeanete de Moraes Souza
Por: Rita de Cássia Amorim Andrade – romancista.
Diários são confessionais. Como o “Diário de Maria Beatriz” não é um romance autobiográfico, senão baseado em fatos reais, propõe-se uma amostragem de comportamento familiar e social do início do século 20. Recupera os momentos mais significativos de um estado familiar e religioso, situados em pequena cidade não identificada. Faz referência aos amores juvenis, românticos. Os acontecimentos ali expostos nos atingem, notadamente, leitores de meia e terceira idades, de mundos vividos, tão familiares aos costumes expressos na obra. O texto se faz linear, pela circunstância de sua fôrma e forma de diário, em que se apresenta no espaço de 1907 a 1910, fundamentado nos costumes de época. É narrado na 1ª pessoa, com enxertos dialogados. É um livro intimista, rico em reflexões sobre comportamento humano e familiar. Faz ligeira incursão pelo campo freudiano, quando, em sonho, transfere o ato do desejado casamento, para outro jovem, com as mazelas que a família atribui ao seu amado. Contudo, não se trata de uma personalidade psicótica. A narradora, uma mocinha de 17 anos desliza na trama com certa tranquilidade, sem que a frustração lhe traga danos irreparáveis. Um dos méritos do livro é propor essa análise sobre o comportamento humano, enfocando a relação pais versus filhos, na vida cotidiana. Compreender esses objetivos, ao colocar o leitor nesses tempos de um século passado, é uma razão para leitura mais atenta do enfoque, visto que ainda se depara, nos dias atuais, com esse comportamento arcaico.
Ao ler “O Diário de Maria Beatriz”, veio-me à mente os romances românticos: a ambientação de jardins em que as flores são linguagens cifradas; a obediência maternal, as discriminações, as renúncias amorosas, Eros e Tânatos, de permeio.
O texto, numa linguagem atual, com facilitação de leitura, evidencia a revisão e organização feitas pelas filhas da autora; não perde, no entanto, a sua originalidade, não invalida a criatividade. Trata-se de revisoras de nomes consagrados nos meios literários, Yeda de Moraes Souza Machado e Maria Christina de Moraes Souza Oliveira, ambas, membros da Academia Parnaibana de Letras.
Há um crescente interesse no mercado cultural, em reeditar ou mesmo editar escritos de gaveta. Essa iniciativa só enriquece a literatura. Nos dias atuais o resgate a essas obras se faz, notadamente, de escritos femininos, partícipes de uma literatura lírica e romântica de uma época, em contraponto aos novos textos tendentes para o erótico, para a denúncia social, para o meio ambiente de flora e fauna.
A obra de Jeanete nos retorna ao ponto fundamental, que é o romance em forma de diários, sem esquecermos que o romance diário/carta tem sido reacendido nas produções atuais.
1 Comentário para “DIÁRIO DE MARIA BEATRIZ – autora: Jeanete de Moraes Souza – por Rita de Cássia Amorim Andrade (categoria: Ensáios Literários)”
Obrigada escritora e romancista Rita Amorim por sua análise no romance MARIA BEATRIZ de autoria de minha mãe Jeanete, já falecida, e que será brevemente editado aproveitando como vc mesma diz que “há um crescente interesse no mercado cultural em reeditar escritos de gaveta. “