POEMA NO AR
Por Benjamim Santos
Meu coração não é bom por natureza
e não fui preparado para a bondade.
Os ramos de outono sacodem meus desejos,
punhais que sangram sangue de oliva.
Tudo me veio de Portugal sem que eu soubesse
e os telhados que vejo do alto mais alto
é tudo barro arredondado em cana
por onde escorrega teu ser para minhas mãos.
De além-mar vieram os toques brancos
que me enovelam em ti feitos de aurora
escorregadia. Então pelos varandais da aurora
percorro as sete semanas que preciso trilhar
para o novo descobrimento do teu ser inteiro.
Não. Por natureza, meu coração não é bondade.
Devo encontrar em busca silenciosa pelas
iluminuras dos varandais o sentido e o bem.
Pelas iluminuras, o arquétipo criptografado
em escarlate, violeta e púrpura,
o arquétipo definitivo do ser que em ti se oculta.
E pelas sombras das iluminuras, o código
da decifração que te devolve a mim,
ser dos seres, dom das dádivas,
de além-mar também saído
entre cravos e especiarias diluído em mim.
*