RUTH GUIMARÃES no Congresso Brasileiro de Escritores – Ribeirão Preto -2011 (categoria: Artigos e Crônicas)

Postado por Rita de Cássia ligado mai 21, 2014 em Artigos / Crônicas | 0 Comentários

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por Rita de Cássia Amorim Andrade


No Congresso Brasileiro de Escritores, participei da Oficina Literária COMPOSIÇÃO CRÔNICA, em que a talentosa escritora RUTH GUIMARÃES destrinça a composição da “crônica”. Ela nos falava que a crônica é um fato social, uma verdade, uma declaração de vida, linguagem de gente por gente. Deverá ser informativa, com opinião analisada e que é necessário ter conhecimento dos fatos. Ser conclusiva. Participamos efetivamente, elaborando um trabalho, em que foi discutida a invasão da polícia federal na favela “Rocinha”, na manhã do dia 13 de novembro, a fim de combater o tráfico de drogas.

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RUTH GUIMARÃES

Romancista, cronista, contista e tradutora. Traduziu grande parte da obra de Dostoieviski, do francês, para a Editora Cultrix. Traduziu, diretamente do latim, também para a Editora Cultrix, “O asno de ouro”, de Apuleio. Como folclorista escreveu livros como “Filhos do Medo”, sob a orientação de Mário de Andrade, e “A saga de Pedro Malazarte”. Seu romance de estreia, “Água Funda”, foi lançado em 1946, em São Paulo, no mesmo evento em que foi lançado “Sagarama”, do seu amigo Guimarães Rosa – uma nova edição está em processo de arte-finalização pela Editora 34.
Foi cronista do jornal “Folha de São Paulo” na década de 60, dividindo espaço, em dias alternados, com Carlos Heitor Cony, Padre Vasconcelos e Cecília Meirelles. Mantém coluna semanal de crônicas no jornal O Vale, de São José dos Campos.
Ocupa a cadeira número 22 da Academia Paulista de Letras desde 2008.
(O Escritor – Jornal da UBE – junho de 2011)

Texto da autora:

Processo

Para quê e para quem escrevo?
Indago de mim mesma e encontro numerosas respostas, possivelmente nenhuma correta.
Para obter honra e glória?
Para dizer tudo o que penso?
Para me aproximar do semelhante?
Para tentar derrubar o muro que separa um ser de outro ser?
Para aprender o sortilégio da vida, que, de outro modo, não alcanço?
Para justificar esta minha existência?
Para deixar impressos no mundo os traços da minha passagem?
Então, será para mim mesma que escrevo?
Ah! Eu conto histórias para quem nada exige, e para quem nada tem. Para aqueles que conheço: os ingênuos, os pobres, os ignaros, sem erudição nem filosofias. Sou um deles.
Participo do seu mistério. Essa é a única humanidade disponível para mim. Quem me dera escrevesse com suficiente profundeza, mas claramente e simplesmente, para ser entendida pelos simples e ser o porta-voz dos seus anseios. Meu temário são as acontecências sem eco no mundo, mas que ajudam a explicar a vida e seus segredos, que talvez possam conter a alma imortal de cada um, seja do rústico, seja do letrado, com suas virtudes essenciais.
Não realizo o alcance do meu clamor, como não reconheço, fora de mim, gravada, a minha própria voz. Ela me parece feia, inexpressiva, não a reconheço, não é a que escuto com a garganta, minha, em mim, nas profundezas do ser. Falta-me distância, falta-me perspectiva.
Depois que escrevo, passo a limpo. Depois de pronto o texto, para ser publicado, dado à luz, não o perfilho mais. Fora de mim, não tem já aquela quente singularidade do instante em que eu o concebia e gestava, em paixão e silêncio. Não significa sequer o quanto vivo a vida, nem quanto a amo.
Escreverei, hoje, para hoje? Que é quanto dura uma crônica de jornal? Para amanhã? Para daqui a um ano? Para daqui a uma década, que é quanto dura – quem sabe? – um livro?
Não sei. Realmente não sei. Continuo tecendo o meu casulo.
Em meus textos, onde estou? Do que dou testemunho, certamente, é que eu estava mesmo aqui, enquanto os escrevia.

(Reprodução do site da União Brasileira de Escritores)

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