Entrevista da FOLHA DE LETRAS com a escritora JOYCE CAVALCCANTE (Outros Autores)

Postado por Rita de Cássia ligado nov 30, 2011 em Outros Autores | 0 Comentários

ENTREVISTA

 

 

 

 

Idealizadora da Rede das Escritoras Brasileiras (REBRA)e diretora da RELAT-Red de Escritoras Latinoamericanas, a escritora e jornalista Joyce Cavaccante tem nove livros publicados não só no Brasil como em diversos países.

Nascida em Fortaleza, Joyce conta que foi desta terra cheia de sol, muita luz e vivacidade que  retirou elementos sobre a vida provinciana e conformada das mulheres criadas para rezar, casar e morrer.

Inconfomada com a condição da mulher, Joyce foi a luta e hoje ocupa um espaço conquistado com muito trabalho e talento.

Morando em São Paulo, atualmente dedica-se a escrever a saga do povo brasileiro de origem nordestina entre os anos de 1954 ao ano de 2004: Constrói a tetralogia chamada “O CORAÇÃO DOS OUTROS NÃO É TERRA QUE SE PISE”, iniciada com os já publicados romances “INIMIGAS ÍNTIMAS” e “O CÃO CHUPANDO MANGA” .

Projetos para o futuro? Joyce tem apenas um: ” Viver bastante para poder escrever todos os livros que estão dentro de minha cabeça.”

 

 

 

FOLHA DE LETRAS – Fale-me de sua formação acadêmica e do trabalho que desenvolve.

 

JOYCE CAVALCCANTE – Sou graduada em Ciências Sociais e Bacharelada em Ciências Políticas, mas devido a literatura não segui a  carreira acadêmica e nunca exerci a profissão. No entanto, esses cursos enriqueceram demais minha bagagem de escritora, prova de que tudo nessa vida converge.

 

F. DE LETRAS- Como surgiu a REBRA?

 

JC –  Surgiu quando estávamos em pleno “Premier Encuentro Internacional de Escritoras”, e era agosto de 98 numa bela cidade Argentina chamada Rosário. Foi justamente lá onde nasceu Che Guevara. Acho que a simples evocação desse nome me fez mais valente para gerar essa inspiração.

 

 

 

Uns seis meses antes já sido fundada a “RELAT- Rede de Escritoras Latinoamericanas”, organização da qual sou uma das diretoras. Era de tarde  e eu escutava os queixumes de Mariela Sala, escritora peruana e a presidente da  RELAT, de como era difícil a comunicação com o Brasil por causa da língua diversa e por causa do exotismo de nosso comportamento. Daí eu juntei os pés e disse: Está bem. Vou fundar uma rede de escritoras brasileiras para fazer a interface com a RELAT e demais redes que se fizer necessário.

 

 

 

Quem não me conhecia não se espantou por não considerar que eu estivesse falando sério. E quem me conhecia também não se espantou, pois já sabiam que não poupo nenhum esforço quando creio. Estava do meu lado a poeta gaúcha Milena Weber, que não me deixa mentir.

 

 

F. DE LETRAS – A associação é composta apenas de mulheres?

 

 

 

JC – Nossa razão social é: REBRA-Rede de Escritoras Brasileiras. No feminino. Creio que não restam dúvidas. Para mais informações viste, por favor a página: www.rebra.org.

 

F. DE LETRAS – Como você vê a produção intelectual brasileira em geral? E, especificamente, a feita por mulheres?

 

JC – A tirar pelo perfil da REBRA, a literatura brasileira vai maravilhosamente bem.  Somos hoje 35 escritoras unidas em associação, e posso dizer que somos 3573 talentos.  Algumas porém já maturadas, outras em início de carreira, mas todas alinhadas com a excelência do fazer literário. Portanto, apenas por esse perfil, podemos afirmar que a produção intelectual brasileira e principalmente a produção feminina está em ótima fase.

 

F. DE LETRAS – Por que tem aparecido poucos novos talentos de escritoras/romancistas?

 

JC – Eu não concordo que tenha aparecido poucos novos talentos. Pelo contrário, a nova literatura brasileira é muito fecunda. Exemplo disso são as escritoras partícipes da REBRA. Mas uma coisa é certa: ninguém tem autoridade para julgar o que lhe é contemporâneo. É arrogância fazê-lo.

 

F. DE LETRAS – A mulher encontra dificuldade em ter seu livro editado?

 

JC- A forma de editar, nos dias de hoje, mudou muito. Dinamizou, acompanhando a nova ordem econômica e social. Se não há editores para todos e todas, os escritores e escritoras se auto publicam e assim expõem sua obra ao público. O público será então quem irá julgar o valor da obra e decidir se ela fica ou não. Se tem consistência ou não. O panorama está melhor do que antes, tanto para o lado do escritor como para o lado do leitor.

 

F. DE LETRAS- As novas tecnologias tem influenciado no hábito da leitura?

 

JC – Obviamente. O Internet acabou com a enorme lacuna entre o escritor e seu público, pois devido a ela não temos mais problema de distribuição, e nem de informação sobre os diversos títulos disponíveis.  Além disso podemos cotar os preços dos livros e optar pela melhor oferta. E outras mil vantagens. Pense nisso. Quanto ao e-book não sei ainda porque não mergulhei nesse universo. Mas estou me devendo isso.

 

No entanto, o melhor da Internet é a interação do escritor com o leitor. É uma delícia receber mensagens e comentários de quem leu nosso livro e se emocionou. Eu recebo umas 20 mensagens por dia por meio de minha páginas. Respondo a todas. Me sinto muito gratificada com essa prática. E creio que os leitores também se gratificam. E isso motiva todo o universo leitor.

 

F. DE LETRAS – Como você compara o conteúdo dos livros com o conhecimento gerado pela televisão?

 

JC – Diametralmente opostos. Não dá nem pra comparar. Livros trazem conhecimento, televisão trás sono. Mesmo porque a televisão não foi concebida pra distribuir conhecimento, mas para uniformizar o pensamento, nivelando-o por baixo. Que cada um faça sua escolha. A minha já está feita: Livros.

 

F. DE LETRAS- Você acredita que o livro de papel vai acabar?

 

JC – Nada vai acabar, nem o mundo. Tudo vai mudando e a gente nem percebe. O uso do papel para impressão pode até ir diminuindo por questões ecológicas – principalmente – mas o livro não será abalado. Livros tem alma. Tem essência. Sempre haverá alguém que olhará para o livro impresso como um ícone sagrado.

 

Quando Gutenberg inventou a prensa, todo mundo achava que era coisa do Diabo, principalmente os detentores do poder, nesse tempo encabeçados pela Igreja Católica, a qual nunca interessou estimular o pensamento do povo, porque quem pensa sabe se defender.

 

 

O livro não vai acabar, mas como tudo que é vivo, vai mudar.

 

 

F. DE LETRAS – O que você acha dos livros de auto-ajuda?

 

JC – Como todos os livros oferecem uma nova proposta, uma nova visão do mundo, um mergulho no nosso self. Porém, nesse gênero como em todos os outros, há os bons e os ruins.

 

F. DE LETRAS – E os audiolivros?

 

JC – Eu gosto. São muito melhores do que as telenovelas. Eles beneficiam cegos, beneficiam hiperativos, pessoas que tem dificuldades de concentração, pessoas que não tem tempo etc.  Eu publiquei um lindo áudio livro com contos de Natal. Chama-se “Memórias de Natal” . Ele tem vendas sazonais, quero dizer, só é procurado nos finais de ano, mas faz o maior sucesso. As pessoas o adotam bastante para presentear. Foi uma boa idéia publicá-lo.

 

F. DE LETRAS – Você acredita que existe uma literatura puramente feminina ou não há uma distinção relevante.

 

JC – Há distinção relevante, sim. Experimente escrever um livro com a cabeça masculina e assim entenderá o que digo. Mas é tão boa essa diferença. Diversifica e enriquece e dá assunto para os entrevistadores.

 

 

F. DE LETRAS – Quais são, para você, as grandes escritoras brasileiras?

 

JC – Dentro de uma lista interminável cito os nomes de Rachel de Queiróz, Júlia Lopes de Almeida, Gilka Machado, Pagu, Cecília Meirelles, Cora Coralina, Clarisse Lispector e mil outras.

 

F. DE LETRAS – O  que  a você acha que deveria ser feito para incentivar a leitura no Brasil?

 

JC – Educação de qualidade para todas as crianças. Isso geraria  leitores e fundamentaria toda a melhora de nossa sociedade.

 

 

F. DE LETRAS – Qual a importâncias das bienais de livros, Flip?

 

JC – Valem a pena,  porque é a hora em que o livro se torna a estrela. A celebridade, conceito tão empurrado nas mentalidades brasileiras. E também porque movimenta a economia e faz o livro contribuir para o aumento do nosso PIB, tornando-o importante aos olhos dos poderes políticos.

 

F. DE LETRAS – Qual a sua opinião sobre as redes sociais?

 

JC – São um excelente canal de comunicação, um veículo de reencontros, um encurtamento do tempo e da distância. Uma grande ferramenta para ilustrar a vida.

 

F. DE LETRAS – O que você acha de uma editora como a “Editora de Mulheres”, de Santa Catarina, que se dedica a resgatar as escritoras brasileiras dos séculos XIX e início do século XX ?

 

JC – Sou a maior entusiasta dessa e de outras iniciativas desse nível, pois se as mulheres não fizerem seu próprio resgate, quem  os fará? Eu gosto demais dos títulos que essa editora publica. As escolhas são resultado de um excelente garimpo. Preciosidades, a meu ver.

 

F.DE LETRAS – Quais são seus projetos futuros?

 

JC – Viver bastante para poder escrever todos os livros que estão dentro de minha cabeça.

 

 

 

 

 

 

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