ALEMANHA HOMENAGEIA CIGANOS – por Josélia Costandrade (Outros Autores)

Postado por Rita de Cássia ligado nov 16, 2012 em Outros Autores | 0 Comentários

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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ALEMANHA HOMENAGEIA CIGANOS

 

Josélia Costandrade – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte

 

No último dia 24 de outubro, em Berlim, a Chanceler da Alemanha, Ângela Merkel inaugurou em Berlim, monumento em homenagem aos mais de 1 milhão e meio de ciganos mortos pelos nazistas, no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Erigida bem próxima à sede do Governo alemão, a escultura, da autoria do artista israelense Daniel Karavan foi realizada em concreto e tem o formato de uma fonte circular aquática contendo no centro um bloco monolítico. Daniel Karavan também esculpiu o monumento que presta homenagem aos 6 milhões de judeus assassinados pelo III Reich.

Presente à cerimônia (de retratação, admissão de culpabilidade, pedido de perdão, compaixão?), Romani Rose, representante do Conselho Central dos Roma e Sinti, as duas famílias ciganas da Europa Central e que perfazem atualmente 11 milhões de cidadãos do continente onde se estabeleceram há dois mil anos. Rose lembrou as atrocidades cometidas pelos nazi contra seu povo e que culminariam com a solução final – ou melhor, as câmaras de gás. Alertou sobre a responsabilidade do Governo em garantir inclusão social para os ciganos e banir a discriminação e o preconceito com os quais são tratados.

Na longa tradição que cerca a origem e a trajetória dos ciganos muitos acreditam em suas raízes indo – européia, outros, que se originaram no Egito e, na visão de alguns esoteristas, eles são oriundos de outro sistema planetário. Pelos caminhos da terra ou das galáxias, os zíngaros têm fascinado e causado impacto onde quer que se apresentem, seja por seus dialetos, trajes, costumes e danças, quer por suas práticas esotéricas, como a “buena dicha” (leitura das mãos). Há notícias de que o Tarô – jogo divinatório contendo cartas grifadas – tenha chegado à Europa através dos ciganos, embora muitos atribuam o fato aos Cavaleiros Templários. O certo é que existem duas versões ciganas daquela coletânea de lâminas exotérico/esotéricas: o Tarô dos Boêmios (ciganos originários da Boêmia, na atual República tcheca) e o Tarô cigano.

“Notáveis escritores e compositores tiveram os ciganos como fonte de inspiração para suas obras, como o russo, Leon Tolstói, no romance “Os ciganos vão para o céu” e sendo personagens secundárias em “Guerra e Paz” e Ana Karenina”. Ambientado na Idade Média, o romance Notre Dame de Paris”, de Victor Hugo tem a belíssima cigana Esmeralda, em contraste com as horrendas gárgulas da Catedral, o aleijão de Quasímodo e as intrigas generalizadas.

Ritmos, harmonias e melodias vibrantes imortalizaram a ópera “Carmen”, de Georges Bizet, que tem a cigana Carmen e seus amigos como personas de um melodrama impactante. Aquela é a Espanha dos gitanos, com as danças características por eles introduzidas no país ibérico: cante jondo, seguidilla, habanera. No original francês Carmen (contralto) canta ostensivamente para dom José a ária célebre: “l’ amour est enfant dês bohèmes”… Entre toureiros, campônios, contrabandistas e soldados, a obra – prima de Bizet mantém-se atualmente prodigiosa.

Giuseppe Verdi, o compositor italiano, criador do som estereofônico (posteriormente utilizado pelo cinema dos Estados Unidos) e autor das óperas “Aída” “Rigoleto”, entre outras maravilhosas composições escreveu “Il Trovatore”, ópera ambientada na Espanha medieval, melodrama pleno de intrigas, vinganças, entre ciganos e nobres. Talvez o momento de maior dramaticidade é vivido na ária “in quela pira”, cantada pela cigana Açucena (mezzo-soprano) amaldiçoando o conde de Luna, raptor de seu filho e diante de uma assustadora fogueira.

Mudando as fortes cores operísticas para as mais leves concepções, em temas alegres,  leves e movimentados, utilizadas no gênero Opereta, o compositor húngaro Franz Lehar criou a partitura do “Barão cigano”, que tem como cenário um país balcânico, gira ao redor da nobreza e dos ciganos, explodindo nas esfuziantes melodias, danças características como as czardas  da Hungria e as valsas vienenses. Eis o apogeu da “belle – époque”, sucumbida aos troar dos canhões da Primeira Guerra Mundial.

Mesmo tendo chegado ao Brasil nas caravelas dos colonizadores, como ferreiros e artesãos, os ciganos fizeram sua entrada triunfal em nosso País com o beneplácito de Dom João VI, que trouxe músicos e dançarinos ciganos ibéricos nas galeotas reais, quando chegou ao Rio, em 18o8, burlando o cerco de Napoleão Bonaparte. Alçados a uma posição privilegiada, os artistas ciganos eram incumbidos por Dom João VI a tocar nas festividades realizadas no Paço Real, na cidade do Rio de Janeiro, então elevada a capital do Reino Unido de Portugal e Algarve. Posteriormente, alguns ciganos, artesãos exímios foram residir em São Gonçalo, do outro lado da Baia da Guanabara.

 

 

 

 

 

 

 

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