ROSISKA DARCY DE OLIVEIA – candidata à cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras, na vacância de LEDO IVO.
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Semana ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA
Rosiska Darcy de Oliveira | Foto: Marcelo Corrêa/ LOLA
Em entrevista publicada na edição de março da revista LOLA, a escritora ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA diz que o grande dilema da mulher contemporânea é a conquista do tempo e do direito à vida privada. “Vendemos barato o nosso tempo”, diz ela, que defende a necessidade de uma readequação da sociedade em prol da felicidade, como aborda também no livro Rengenharia do Tempo (Rocco). Abaixo, reproduzimos três momentos da entrevista, feita por Luciana Ackermann, com fotos de Marcelo Corrêa.
Qual o grande dilema das mulheres hoje?
Depois do movimento feminista, cuja afirmação da identidade foi “Nosso corpo nos pertence”, surgiu uma segunda demanda: “Nosso tempo nos pertence”. Trata-se de conquistar seus dias, sua própria vida. Minha geração puxou a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, mas tivemos que aceitar as condições impostas. Nos anos 70, nós formulamos a estratégia: “Deixe-me entrar no mercado de trabalho que você nem vai perceber que sou mulher”; em casa: “Deixe-me trabalhar que você nem vai perceber que eu saí”. O resultado é uma igualdade capenga. Quebramos um paradigma milenar, mas a sociedade seguiu organizada como se nada tivesse acontecido. É como se dissessem: “Virem-se, vocês não quiseram? Agora, aguentem”. Não se quebra um paradigma milenar impunemente, mas a conta cobrada das mulheres é indevida, e nós não devemos pagar.
O que fazer diante desse cenário?
Primeiro, é preciso reconhecer o problema. As mulheres passaram pela fronteira do mundo do trabalho escondendo os assuntos da vida privada. Essa é a parte afetiva – os filhos, os pais, o desejo de ter uma nova formação. A lógica da vida privada não é a mesma do mundo do trabalho. Uma mãe que passa a noite na cabeceira de um filho doente não se rege pela remuneração da enfermeira da noite. A motivação é outra. Não tem preço, mas um dos grandes problemas do nosso mundo é que tudo aquilo que é gratuito se torna invisível. Para as mulheres, fica o sentimento de que nunca estão sendo corretas, nem em casa nem no trabalho. Impera a dupla mensagem: seja, não seja; faça, não faça. É um sofrimento psíquico muito grande no dia a dia, vai muito além da culpa. Essa neurose das mulheres tem de ser transferida à sociedade. A sociedade que é neurótica, não as mulheres. O esgotamento é geral.
Qual é a solução?
Uma reengenharia do tempo, uma mudança na sociedade. Os empregadores em geral têm de admitir a existência da vida privada, que ela consome energia e tempo. É preciso repensar o que está aí com inteligência social. Não é necessariamente diminuir o tempo do trabalho. É organizá-lo de forma diferente.
Fonte: pensoumulher.abril.com.br
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