*
Piauí – 190 anos de fidelidade à Independência do Brasil
Josélia Costandrade – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte
No dia 24 de janeiro de 1823, o brigadeiro Manuel de Souza Martins, barão de Oeiras, Presidente da Província do Piauí declarou fidelidade à Independência do Brasil, ocorrida quatro meses antes. A reação de Portugal foi imediata, ao enviar tropas comandadas por Fidié, no sentido de submeter a rebeldia daquela Província. Piauienses de todas as classes sociais, poetas, senhores de terras, vaqueiros, estudantes uniram-se na Batalha do Jenipapo, onde centenas morreram, mas a vitória aconteceu na cidade da Parnaíba, no delta, junto ao mar.
Proclamando Dom Pedro a Independência,
jurou – lhe o Piauí fidelidade.
Portugal declarou-lhes resistência
tentando separar com falsidade
as Províncias leais ao novo Império:
Piauí, Maranhão, um golpe sério,
mais o Pará…E começou a luta.
com Fidié, guerreiro bem treinado,
desde a expansão da França, na disputa
que deixou Portugal abandonado.
De Parnaíba, Oeiras, no levante,
do povo, contra a causa portuguesa
levou Piracuruca, litigante,
junto a Campo Maior, para a defesa.
Souza Martins, o maior mandatário
da Província, partiu para a batalha:
o Piauí, não mais um tributário
de Portugal, após ação canalha.
E, de Oeiras, ao repicar dos sinos
partiram para a luta, ‘inda meninos.
Baniriam da terra os invasores.
Não sabiam os riscos de uma guerra,
que, nas trincheiras espalha horrores,
o forte sangue a irrigar a terra.
Mulheres destemidas, matriarcas
deram provas de apoio à dura luta:
as jóias e moedas, mesmo parcas,
para minimizar brutal labuta.
As generosas mães, noivas filhas,
os olhos alongados pelas trilhas
que levavam as tropas mal armadas.
E ficavam, as fortes brasileiras
a rezar, compungidas, concentradas,
um Rosário de contas, desde Oeiras.
E foram moços bisonhos e vaqueiros,
poetas, visionários, no delírio
de ficar junto aos outros brasileiros,
sem pensar qual seria seu martírio.
Contra o poder da forte artilharia
dos portugueses, nossos combatentes,
armados de facões, foice, utopia,
duros golpes sofreram, inclementes.
Treze de março, em Jenipapo, as águas,
do altivo sangue pátrio se mancharam.
Sentindo a dor, ao constatar as mágoas
dos patriotas, centenas, que expiaram.
As bocas dos canhões, como fornalhas,
transformaram soldados em migalhas
informes, sobre a terra estiolada.
Patriotas, assim sacrificados,
nas páginas da História mais sagrada
são heróis, se mantêm eternizados.
Mesmo ganhando a guerra, os portugueses,
lesados por alguns sobreviventes,
com Fidié fugiram… E em três meses
a Portugal voltara, indigentes.
Pedro Primeiro, compreendendo o gesto
do Piauí, contra a força mesquinha,
do Paço Imperial deu manifesto:
“Das Províncias do Norte sois Rainha!”