PARA O SILÊNCIO – por Francisco Miguel de Moura (categoria: Outros Autores)

Postado por Rita de Cássia ligado fev 12, 2014 em Outros Autores | 1 Comentário

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PARA O SILÊNCIO

 

Não me dói a janela fechada,

o pássaro fechado, a música

tão bela

ante o verde nos meus olhos.


Não maldirei a sorte do país

no pórtico do milênio ciciante,

milhares de famintos que se sabem

roubados no salário infame

e nada fazem, nada dizem.


Mas bendirei o vento norte

quem te trouxe até a mim,

e da serra o perfume e o verdume

e meu passado já fendido,

e os olhos negros de ternura,

e a boca em zero de palavras.

Foi o silêncio quem nos consagrou

no que há de mais puro e doce,

entre o que vive e sonha.


Leve (e lindo) é o instante, irredutível

a um poema, a uma frase, um ai.

Poema eu vi na dobra do roupão

amanhecendo o corpo cor da tarde,

anunciando a noite do outro lado,

um transparente quanto a carne que arde.


Levo comigo a sensação de ter-te

em meus braços, esquecidos braços,

e a esperança da ventura ímpar

que da serra desceu com teu sorriso.


Assim, não possa maldizer a vida

nem a sorte de ser um deserdado

no amor e no jogo e nas ações.


Assim, não possa desprezar a serra,

o vento, o clima de viver, o verão…


Nem a casa, o café, a cerimônia,

nem o silêncio que entre nós se apôs.


Só no silêncio é que se guarda o ouro,

a eterna idade e a virtude do outro,

e o amor… Belo é o amor! Ilude.


Salve-se o silêncio a um, a dois.

Salvemo-nos pra sempre como sempre

na poesia que você fluiu

neste poema que eu calar não pude.

 

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Francisco Miguel de Moura > ANTOLOGIA – Poemas Escolhidos pelo Autor > página 60.

 

 

 

 

 

 

 

 

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1 Comentário para “PARA O SILÊNCIO – por Francisco Miguel de Moura (categoria: Outros Autores)”

  1. Pedro Pio disse em:

    Fico, como sempre, maravilhado com a capacidade de Francisco Miguel de Moura de dizer sobre a vida, de maneira tão encantadora e sutil. Lindíssimo poema!

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